Jokowi vence presidenciais indonésias sob o olhar atento de toda a Ásia
As eleições representavam a escolha entre prosseguir a transição democrática ou travá-la. Eram também um teste à democracia na Ásia. Pela primeira vez, há um Presidente que não nasceu da oligarquia.
Horas antes, o ex-general convocou uma conferência de imprensa em que recusou reconhecer a derrota, denunciou “fraudes maciças e sistemáticas” e anunciou que iria pedir ao Tribunal Constitucional a anulação destas eleições. Para os observadores do processo e os analistas independentes, as eleições correram de forma correcta e transparente. Os eleitores votaram em massa: 75%. O Tribunal Constitucional deverá pronunciar-se em Agosto e a posse de Widodo está prevista para 20 de Outubro.
O actual Presidente, Susilo Bambang Yudhoyono, enviara na véspera um “recado” a Prabowo: “Aceitar a derrota é nobre e felicitar o vencedor é bonito.”
O desfecho da eleição marca um corte na vida política indonésia e era atentamente seguido nos países vizinhos, em que se debate a opção entre democracia liberal e democracia “musculada”. Jokowi arrasta elevadas expectativas: “Se ele vencer, mudará o modo de sonhar dos jovens indonésios”, resumiu na véspera do voto o politólogo Anies Baswedan, presidente da Universidade Paramadina de Jacarta. O excesso de expectativas é um risco, avisam outros analistas.
Um fenómeno político
Jokowi, 53 anos, entrou na política em 2005. Nascido numa família pobre de Java, tornou-se industrial de móveis. Aos 44 anos candidatou-se a presidente de Jolo, a sua cidade natal. Foi eleito e, depois, reeleito com 90% dos votos. Limpou a cidade, construiu infraestruturas, reduziu a burocracia e marginalizou os islamistas radicais — há dez anos as paredes exibiam posters de Bin Laden. Em 2012 foi a vez de ser eleito governador de Jacarta. Tem uma reputação de honestidade num país com uma alta taxa de corrupção. É também o primeiro Presidente que não é herdeiro da oligarquia. Tem a imagem de “homem do povo” — não de populista — e tornou-se num fenómeno político: responde a algo a que a população aspirava, sobretudo nas camadas pobres, na classe média baixa e entre os jovens.
Probowo, 62 anos, representa o inverso. É um homem da oligarquia — financeira, política e militar — que governa a Indonésia em todos os regimes desde a independência. Filho de um banqueiro, faz parte de uma família de milionários. Escolheu a carreira militar e foi genro do antigo ditador, general Suharto, a quem terá aspirado suceder. Deixou má memória em Timor. Comandante de uma unidade de elite — Kopassus — durante o processo da queda de Suharto, em 1998, foi acusado de raptar e torturar estudantes. O exército retirou-lhe a patente e afastou-o da instituição militar. Justificou-se dizendo que cumpria ordens de Suharto. Exilou-se na Jordânia e, desde que regressou, tem-se batido pela conquista da presidência. Tentou ser candidato em 2004 e ficou em terceiro em 2009.
As alianças na política indonésia são muito flutuantes. Jokowi teve o apoio de Probowo na eleição de Jacarta e pôde concorrer às presidenciais graças à aliança com o partido da antiga presidente Megawati Sukarnoputri, filha de Sukarno, o “pai da independência”. E escolheu para vice-presidente Jusuf Kalla, um “veterano do sistema” que já foi vice-presidente em 2004-2009.
O futuro presidente não terá facilidade em governar. O Parlamento está “balcanizado”, o que o obrigará a negociar com demasiados partidos. Depois de um primeiro mandato brilhante, Yudhoyono deixou-se paralisar no segundo. De resto, a oligarquia permanece atenta.
O eco regional
A Indonésia não é apenas importante por ser um país de quase 250 milhões de habitantes e a maior economia do Sueste Asiático. A transição democrática da Indonésia, lançada no início dos anos 1990, foi um sucesso com grande impacto na Ásia. Estas eleições foram seguidas com a máxima atenção em várias capitais, na expectativa de uma viragem nacionalista de Prodowo e, sobretudo, por serem um “teste à democracia”.
Jokowi propõe-se prosseguir a democratização e a reforma das instituções. Prodowo pediu aos eleitores que o elegessem “apenas uma vez”: propunha-se abolir as eleições directas e concentrar todos os poderes na presidência. Diz que a “democracia ocidental” é ineficaz e não se adapta à Indonésia.
É um debate real na Ásia. O modelo da “democracia autoritária” de Singapura exerce um certo fascínio. O modelo chinês autojustifica-se pelo risco do caos. Na Tailândia, um golpe militar pôs termo a uma democracia “populista”. No Camboja ou na Birmânia, ouvem-se os mesmo argumentos. Para não falar no susto das eleições afegãs e outras.
O problema de Probowo é que 80% dos indonésios gostam de eleições directas e competitivas, muitos dos quais até votaram nele. Chamam às eleições “o festival da democracia” — pesta democrasi.