A história do último jogo olímpico

A 18 de Maio de 1924, no estádio de Colombes, na região de Paris, realizou-se a última partida oficial na prova até ao momento

O Barão Pierre de Coubertin (pai dos Jogos Olímpicos da era moderna) era um adepto do râguebi. Aliás, foi ele o árbitro da final do primeiro campeonato francês, a 20 de Março de 1892, entre o Racing Club e o Stade Français. Não é por isso de estranhar a entrada do râguebi já na segunda edição dos Jogos.

Nas sete primeiras edições, o râguebi esteve representado em quatro: 1900 e 1924 em Paris, 1908 em Londres e 1920 em Antuérpia. A França ganhou a medalha de Ouro em 1900; a Australásia (equipa constituída por jogadores da Nova Zelândia e da Austrália) em 1908; os Estados Unidos em 1920.

E chegamos ao último jogo de râguebi nos Jogos Olímpicos: França-EUA, a 18 de Maio de 1924, no estádio de Colombes, na região de Paris. A jogar em casa, com o estádio a “arrebentar pelas costuras” (rezam as crónicas entre 30 a 40 mil espectadores), a campeã europeia França estava determinada a vingar-se do desaire de Antuérpia, quatro anos antes, onde perdera a final contra os mesmos Estados Unidos, selecção constituída fundamentalmente por jogadores de futebol americano, por 0-8.

As coisas começaram mal desde o inicio, com o hino dos Estados Unidos a ser vaiado pela assistência maioritariamente francesa. Com dois minutos de jogo, já a vedeta local, Adolphe Jauréguy, tinha de sair de maca, inconsciente. Foi constante o arremesso de objectos contra os jogadores e banco dos visitantes. O americano Gideon Nelson ficou também desmaiado, supostamente vítima de uma bengalada...

A cereja no topo do bolo chegou no final, com a invasão de campo e os jogadores dos Estados Unidos a necessitarem de escolta policial para sair do campo. Uma famosa frase do jogador francês Allan Muhr (natural dos Estados Unidos), resumiu o jogo na perfeição: “É o melhor que se pode fazer sem facas ou revólveres”.

Para a história ficou o resultado (vitória dos EUA por 17-3) e a medalha de ouro para os norte-americanos (que assim se tornaram a equipa de râguebi com mais medalhas de ouro olímpico).

Como resultado do completo desrespeito pelos valores olímpicos e do râguebi, o COI decidiu retirar o estatuto de modalidade olímpica ao râguebi. O facto do principal “protector” da modalidade, o Barão de Coubertin, ter deixado o cargo de principal responsável pelo Comité Olímpico em 1925, facilitou também uma tomada de uma decisão que, já de si, não era muito difícil.

Indiferente não é também o facto de, nessa altura, poucos países demonstrarem interesse em apresentar equipas de râguebi - nos jogos de 1924, para além da França e dos Estados Unidos, apenas a Roménia apresentou equipa.

Após essa data, apenas se realizou um torneio de exibição em 1936, nos Jogos de Berlim, com a França, Alemanha, Itália e Roménia. No que foi, até à data, o último jogo de râguebi jogado nas Olimpíadas, a França venceu a Alemanha na final, por 19-14. No entanto, o râguebi já não era oficialmente modalidade olímpica, pelo que o último jogo deve ser considerado a final de 1924.

Posteriormente, várias tentativas foram efectuadas para trazer de volta o râguebi aos JO. Tivemos, no entanto, que esperar até 13 de Agosto de 2009 para que o comité executivo do COI recomendasse a variante de Sevens para inclusão nos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro.

A 9 de Outubro do mesmo ano, o pleno do COI, na sua 121.ª reunião em Copenhaga, validou a anterior recomendação e votou favoravelmente para a inclusão do râguebi nos JO de 2016. Para que esta história tenha agora um final feliz, resta esperar que o apuramento de Portugal se concretize.

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