Exame às contas do BES pode determinar novos reforços de capital
Nova equipa liderada por Vítor Bento vai analisar as contas da instituição e verificar se os números fornecidos por Ricardo Salgado estão certos.
O BES tem desde ontem um novo presidente executivo, que resulta do afastamento de Ricardo Salgado, que sai por pressão do Banco de Portugal após ter estado 23 anos à frente da instituição financeira.
Vítor Bento, de 60 anos, tem pela frente vários desafios. Um deles é assegurar que as contas certificadas pela equipa de Salgado estão certas. Na quinta-feira passada, por imposição das autoridades, o BES emitiu um comunicado, já perto da meia-noite, onde revelou que tinha revisto em alta o valor da exposição que tinha ao Grupo Espírito Santo (GES) e empresas relacionadas (como a Escom, que tem negócios em Angola e está em processo de venda).
O banco, no entanto, não deu por adquirida a informação veiculada através da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários. Ou seja, a equipa ainda liderada por Ricardo Salgado admitiu que os números podem vir a ser alterados quando for divulgado o plano de reestruturação do GES, que integra, no seu perímetro, várias empresas com graves dificuldades financeiras.
Em cima da mesa da nova gestão do banco estão, por isso, vários cenários e um deles passa por um aumento de capital para fazer face a eventuais insuficiências que venham a ser registadas. A entrada de novos accionistas é uma das possibilidades, comentando-se no mercado que um dos novos investidores pode vir do Brasil – o banco BTG Pactual, cujo dono, André Esteves, comprou há mais de um ano 80% do capital da Quinta da Romaneira, um dos ícones do vinho do Porto, no Douro.
Uma fonte do PÚBLICO ligada à bolsa admite que, no mínimo, o BES possa ter que reforçar o capital em 2000 milhões de euros. Um caminho que o Citigroup, que adquiriu acções no último aumento, considerou que, no pior dos cenários, implicaria 4200 milhões de euros.
Esta possibilidade tem sido, no entanto, considerada mera especulação pelas autoridades. O Banco de Portugal já veio considerar que o BES está “sentado” em almofadas de 2100 milhões de euros, quadro confortável para enfrentar perdas potenciais e manter rácios acima dos 9%. Ou seja, para o supervisor, os depositantes não correm riscos.
Qualquer iniciativa de reforço do capital não terá carácter imediato. No caso de recurso a fundos estatais, isso exigirá o cumprimento, por parte do BES, de critérios muito estritos segundo as mais recentes orientações europeias. Poderia, no entanto, ajudar a formar um “dique” para conter a turbulência que rodeia, actualmente, os títulos do banco.
Recorde-se que o novo responsável pela área financeira do BES, João Moreira Rato, tem experiência de banca foi até agora o presidente do instituto que gere a dívida pública portuguesa (IGCP), o que lhe permitiu criar canais directos de comunicações com grandes investidores financeiros.
O reforço de capital exige o apoio dos accionistas e, entre eles, o da Espírito Santo Financial Group (ESFG) que possui 20,1% do banco, mas cujo activo está sob ameaça no caso de a sociedade que controla a Espírito Santo Financial Goup, a Espírito Santo Internacional (ESI), entrar em situação falência.
A ESFG pediu suspensão da cotação na quinta-feira passada e até ontem não tinha regressado à negociação em bolsa. Mas emitiu ontem um comunicado onde confirma a venda de uma fatia de capital de 4,99% do BES para pagamento de um crédito de 100 milhões de euros que tinha pedido para acorrer ao aumento de capital do banco. O direito foi exercido pelo banco japonês Nomura, embora a sociedade não o refira.
Num segundo comunicado, a Espírito Santo informa que a venda foi feita a 0,34 euros por acção, ou seja, com um desconto de 24,4% face à cotação de fecho de ontem das acções do banco – 0,45 euros por título.
Analistas dividem-se sobre o impacto que esta venda pode vir a ter na evolução da cotação do BES. Há quem defenda que pode forçar novas descidas até ao valor de venda dos quase 5% e também quem sustente que a compra mostra que há investidores dispostos a assumir risco no BES, e que o interesse poderá ir além dos cerca de 5% agora transaccionados. Esta expectativa pode travar maiores desvalorizações.