Ana Drago e Daniel Oliveira admitem aproximar-se do Livre e do PS

Objectivo principal das movimentações no perímetro do Bloco é impedir que os socialistas cedam à tentação de fazer alianças à direita. O partido de Rui Tavares pode ser um caminho.

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Em 2009, a questão da governação não era ainda uma prioridade Daniel Rocha

É isto que une personalidades como Ana Drago ou Daniel Oliveira, dois dos rostos mais mediáticos da actual crise no Bloco de Esquerda. Um partido que está dilacerado, depois da desvinculação anunciada sábado da corrente Fórum Manifesto (ex-Política XXI, criada por Miguel Portas e onde continuam Drago e Oliveira), por um lado, e a criação de uma nova corrente, a Esquerda Alternativa, de Luís Fazenda (UDP), que tem criticado duramente qualquer aproximação ao PS.

No meio, mais isolada mas predominante na direcção do Bloco, fica a tendência Socialismo, criada pelos dois coordenadores João Semedo e Catarina Martins, e à qual aderiram a eurodeputada Marisa Matias, o ex-líder parlamentar José Manuel Pureza e o ex-deputado José Gusmão, todos originariamente da Política XXI/Fórum Manifesto.

Na origem da dissensão  desta corrente – com o corolário da saída do Bloco por parte de Ana Drago, confirmada este domingo pela própria  – estão os resultados eleitorais das eleições europeias e a Carta às Esquerdas escrita pelos dois coordenadores do BE no início de Junho, explicou ao PÚBLICO Ana Drago.

Nesta carta, divulgada no PÚBLICO de 6 de Junho, Catarina Martins e João Semedo excluem alianças com o PS nas próximas eleições legislativas. Ali se diz que a primeira das “obrigações irrecusáveis perante o país” é precisamente “não dar qualquer apoio a um governo, mesmo que dirigido pelo PS, que prossiga políticas de austeridade como as impostas pelo Tratado Orçamental”.

“Não pode haver uma atitude principista e excluir à partida uma aliança com o PS”, afirmou Ana Drago, depois de confirmar a sua desvinculação do BE e do cargo de deputada da Assembleia Municipal de Lisboa. “Devemos explorar todas as possibilidades para encontrar um compromisso sobre o que é essencial, pois a situação do país não nos pode fazer ficar satisfeitos com o facto de termos razão. Temos de criar soluções reais”, acrescenta.

O Livre no horizonte
E a procura dessas soluções passa por encontrar interlocutores em movimentos como o partido Livre, de Rui Tavares – que também se afastou do BE quando era eurodeputado, embora nunca tenha sido militante bloquista, e que integra o Fórum Manifesto. Ou o Manifesto 3D, criado em Dezembro para tentar uma convergência de esquerda para as eleições europeias e extinto no final de Maio, onde pontuaram, além de Daniel Oliveira, José Reis e Ricardo Araújo Pereira.

“Há duas formas de a esquerda do PS influenciar a governação [socialista]”, diz Daniel Oliveira ao PÚBLICO: “Uma é participar directamente nos governos; outra é, estando na oposição, ter capacidade de atracção do eleitorado socialista de tal forma que os eleitores percebam que esta força política está disponível para governar”.

Nesse contexto, não esconde que “o Livre e todo este conjunto de pessoas” do Manifesto 3D e do Fórum Manifesto “são indispensáveis neste processo”.

No entanto, Oliveira rejeita, tal como Ana Drago, uma filiação directa no Livre. “É possível começar por aí, para procurar pontos de convergência e salvaguardar o que é essencial” , prefere dizer Ana Drago. “O debate a fazer é quem são as pessoas que têm o mesmo objectivo”, defende Daniel Oliveira.

E pessoas com o mesmo objectivo também ainda existem no seio do Bloco, a par de outras que seguem o rumo contrário, como Luís Fazenda, que registou a corrente Esquerda Alternativa, a que já aderiram o líder parlamentar Pedro Filipe Soares, as deputadas Helena Pinto e Mariana Aiveca e Joana Mortágua, da comissão política.

Uma tendência que rejeita exactamente aquilo que a Manifesto pretende. “O movimento 3d ou o Livre apresentam como projecto a governabilidade com o PS a liderar. Não obstante o apoio popular ao PS de sectores da esquerda com quem devemos dialogar, é errado desejar que o Bloco possa embelezar um governo "à Hollande" em Portugal. Não é por esta agenda política que passa a alternativa”, lê-se na proto-moção desta corrente que acabou por dividir a tendência original UDP.

Parece, assim, cada vez mais difícil alcançar o objectivo, traçado pelos coordenadores João Semedo e Catarina Martins, de chegar à Convenção de Novembro com uma moção única. Ontem, na primeira reunião para discutir as linhas deste texto, não estiveram presentes nem os subscritores da Esquerda Alternativa, nem já os da Fórum Manifesto.

Sobre o encontro do Porto, que decorreu à porta fechada, sabe-se apenas que foi eleita uma comissão redactora da moção e aprovado um calendário de reuniões descentralizadas, para mobilizar militantes e simpatizantes do Bloco a dar contributos à redacção final.

Sobre a turbulência interna, nem uma palavra. Sobra o curto comunicado enviado à comunicação social no sábado, em nome da direcção: “O Bloco continuará empenhado em juntar forças, convicto de que o impulso para dividir não reforça a esquerda”.

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