Para quem não estiver familiarizado com o conceito, o “Lago dos Tubarões” a que me refiro no título é um programa americano, em formato de série, que coloca frente a frente um painel de empresários multimilionários, de um lado, e empreendedores, pequenos empresários ou inventores, do outro. O objectivo dos segundos é convencer os primeiros a investirem no seu produto, serviço, marca, empresa ou ideia de negócio.
Em Portugal, um programa com um formato igual a este parece-me inviável, embora desejável. Cá, o mercado é uma ínfima parte do americano, há menos activos, as oportunidades e as perspectivas de crescimento são menores. Por outro lado, não acredito que haja ricaços investidores portugueses com interesse em exporem-se como os “tubarões” do programa americano. Lá, até se mascaram de palhaços ou participam em demonstrações embaraçosas para perceberem melhor aquilo em que eventualmente vão investir. Imagino que se sujeitem a isso por interesse (claro), por curiosidade, por diversão e por uma exposição mediática favorável. Não deixando de ser implacáveis quando assim o entendem.
Aqueles investidores têm um papel fundamental no programa, não só pelo motivo óbvio, mas também porque criam uma dinâmica que seria difícil de replicar em Portugal. Eles inspiram confiança, proximidade, mostram conhecimento de causa em diferentes áreas e permitem um ambiente quase informal. Têm, por isso, uma imagem mais simples, afável e terrena do que os milionários da nossa praça. Estes, ou são demasiado recatados ou demasiado empertigados e intocáveis para participarem num programa deste género. Oxalá existam excepções.
No entanto, seria muito útil que se replicasse a série em Portugal. Se houvesse esta mistura de “reality show” competitivo e de concurso de ideias com investidores, seriam colhidos frutos proveitosos. O programa seria feito à nossa escala, com a janela da internacionalização aberta, estimulando a exportação e a economia, criando novos empregos e servindo de exemplo.
Muitos portugueses podiam beneficiar deste modelo: aqueles que são pródigos em ideias brilhantes e inovadoras mas que, pela falta de apoios e de meios ou pelo excesso de burocracia, têm dificuldade em concretizá-las. Muitos deles acabam por emigrar. Nenhuma forma de financiar projectos seria tão aberta a negociação e tão mediática como num programa semelhante ao Shark Tank, possibilitando o aumento meteórico da visibilidade e o crescimento considerável do negócio, com uma boa parceria estratégica.
Sabe-se que este programa tem uma fatia de audiências assinalável nos Estados Unidos e que a sua transmissão cá em Portugal também tem sido acompanhada por milhares de pessoas. O que até vem a calhar, já que a tendência em televisão é as audiências ditarem os conteúdos. Assim, importar o programa e exibi-lo semanalmente em canal aberto seria uma óptima alternativa aos programas sazonais medíocres que vão sendo exibidos aos fins-de-semana, em horário nobre. Basta encontrar as pessoas certas. Está dada a sugestão.