"É absurdo reclamar a reestruturação da dívida", diz Campos e Cunha
Ex-ministro das Finanças considera que medida obrigaria Estado a intervencionar sector financeiro.
"É absurdo reclamar a reestruturação da dívida", disse Luís Campos e Cunha, durante um seminário organizado pela Cátedra Jean Monnet da Universidade de Lisboa, com o apoio da Associação para o Desenvolvimento Económico e Social (SEDES), onde foi moderador e esteve presente enquanto professor da Universidade Nova e presidente daquela associação.
O tema da reestruturação da dívida tem sido abordado diversas vezes e nesta terça-feira o PÚBLICO noticiou que os economistas Ricardo Cabral, Francisco Louçã, Eugénia Pires e Pedro Nuno Santos propõem um programa sustentável para a reestruturação da dívida portuguesa.
Em declarações à comunicação social, Campos e Cunha reforçou, de uma maneira geral, que "não seria possível" a renegociação dos termos e dos prazos da dívida, porque "isso significa sempre que o valor actual da dívida cai e que o balanço dos bancos fica imediatamente reduzido".
"É igual a um haircut. Desse ponto de vista, no dia seguinte, o Estado teria de estar a ajudar o sector bancário português e o sector financeiro em geral", disse o antigo ministro das Finanças, lembrando que boa parte da dívida titulada no mercado está na mão de instituições financeiras nacionais, como bancos e empresas de seguros, "que não poderiam seguramente ir à falência".
Campos e Cunha detalhou ainda que uma boa parte da dívida, na ordem dos 40%, está em instituições europeias, para as quais não há possibilidade de haver reestruturação da dívida.
"O que houve já foi uma renegociação, estenderam-se os períodos e baixou-se a taxa de juro. Penso que abrir esse capítulo nem sequer é possível", afirmou.
Fica então a faltar uma única fatia, correspondente a cerca de 25% da dívida, que está nas mãos de fundos de investimentos e de pensões de Estados como o Alasca e o Luxemburgo.
Para Campos Cunha este seria o único sector onde poderia haver verdadeiramente uma reestruturação, mas isso seria "queimar reputação" precisamente junto daqueles que confiaram em Portugal.