Resultados preliminares das presidenciais no Afeganistão dão vitória a Ashraf Ghani

Números divulgados invertem resultado da primeira volta. Comissão eleitoral sublinha que não é ainda possível falar num vencedor, que só será anunciado após auditoria a denúncias de fraude.

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Abdullah assegurava que não aceitaria os resultados até que todos os “votos fraudulentos fossem excluídos” Wakil KOHSAR/AFP
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Ashraf Ghani conseguido apenas 31,6% dos votos na primeira volta BEHROUZ MEHRI/AFP

Os resultados foram anunciados quase cinco horas depois do previsto, um atraso explicado pelas negociações de última hora entre as duas candidaturas para tentar evitar que a divulgação dos números desencadeasse uma guerra aberta. Abdullah, o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros que na primeira volta conseguiu 45% dos votos, garantia ainda no domingo à noite que não aceitaria os resultados até que todos os “votos fraudulentos fossem excluídos”.
Esta segunda-feira, aumentava a escalada retórica e falava já de um "golpe contra o povo". 

Segundo uma porta-voz de Ghani, os dois lados chegaram a acordo para que a auditoria decidida na semana passada abranja 7100 das mais de 22 mil assembleias de voto, e não as 1930 inicialmente previstas. Mas, ao contrário do que exigia Abdullah, a comissão eleitoral decidiu não esperar pelo apuramento das fraudes para divulgar os resultados na sua posse.

De acordo com o presidente da comissão, Ahmad Yusuf Nuristani, 8,1 milhões de afegãos participaram nas eleições de 14 de Junho (mais dois milhões do que na primeira volta) e Ghani obteve 56,4% dos votos, contra 43,5% de Abdullah. Na votação de 5 de Abril, o antigo ministro das Finanças tinha conseguido 31,6% dos votos.

Nuristani sublinhou que estes dados “não significam que o candidato que lidera é o vencedor e há a possibilidade de o resultado mudar depois de serem analisadas as queixas” – os boletins depositados nas 7100 assembleias que deverão ser incluídas na auditoria são suficientes para inverter as posições. No entanto, é grande o fosso que separa os dois candidatos (cerca de um milhão de votos) e um resultado diferente do anunciado pode ter o efeito contrário, levando Ghani a não reconhecer a recontagem.

Depois de uma primeira volta em que o nível de fraude terá ficado abaixo do registado em 2009 – na muito contestada reeleição do Presidente Hamid Karzai –, cedo se percebeu que a votação de Junho não iria pelo mesmo caminho. Mal as urnas fecharam, as duas candidaturas trocaram acusações de irregularidades. Abdullah, que há cinco anos se retirou da corrida presidencial denunciando fraudes sistemáticas, voltou à carga dizendo que o rival recebeu dois milhões de votos fictícios, num esquema montado por Karzai para assegurar a vitória de Ghani, um economista e antigo perito do Banco Mundial, que é tal como ele um pashtun.

Os observadores admitem que a participação foi mais elevada do que em Abril e que terá havido uma mobilização da maior etnia do país para evitar a eleição de Abdullah, filho de pai pashtun e mãe tajique, mas que é conhecido no país como dirigente da antiga Aliança do Norte e é sobretudo apoiado por tajiques e hazaras. Apontam, porém, fortes indícios de fraude em larga escala: nalgumas províncias do Sul e Leste (de maioria pashtun) a votação foi superior ao que seria previsível tendo em conta as estimativas de população.

Os EUA e a União Europeia pediram uma “avaliação exaustiva” das denúncias, o que pode acalmar a ira de Abdullah, mas parecem já goradas as esperanças de que a eleição – anunciada como a primeira transição democrática na história do país – fosse vista como um sucesso.

Com as tropas da NATO de saída teme-se que o arrastar do processo ou um desfecho que não seja reconhecido por todos ponha em causa a frágil estrutura de poder construída na última década. Um cenário que iria desenterrar velhas disputas, entre tribos, etnias e senhores da guerra, aproximando o país de uma nova guerra civil como a que devastou o país na década de 1990 e terminou com a chegada dos taliban ao poder. Vários analistas temem também a cisão entre pashtun e tajiques, num cenário de fragmentação idêntico ao que se vive no Iraque.

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