Em Moscovo, na 2.ª etapa do Sevens Grand Prix 2014, foi necessário, para classificar as equipas para a fase a eliminar, utilizar as regras de desempate. De acordo com os regulamentos do torneio as regras de desempate impõem que, caso sejam duas as equipas empatadas em pontos de classificação, ficará à frente a equipa que tenha vencido o jogo entre ambas. Para o caso de existirem três ou mais equipas empatadas o critério de desempate coloca-se na melhor diferença de pontos de jogo marcados e sofridos.
Para os dois lugares de "melhores terceiros" havia seis equipas, todas elas com 5 pontos de classificação: a França, no Grupo A e com 21pontos negativos de jogo; no Grupo B, Portugal com o mesmo número de pontos de jogo marcados e sofridos, a Bélgica com 8 pontos negativos de jogo e a Alemanha com 22 pontos negativos de jogo; no Grupo C, a Espanha com 5 pontos negativos de jogo e a Itália com 31 pontos negativos de jogo.
Enquanto a França esperava pela classificação dos outros grupos para saber da sua sequência competitiva, no Grupo B, o critério da diferença de pontos marcados e sofridos determinava a ordem decrescente de Portugal em 2º, Bélgica em 3º e Alemanha em 4º - mesmo que Portugal tenha sido derrotado (14-7) pela Bélgica que, por sua vez, foi derrotada (19-7) pela Alemanha.
No Grupo C, como estavam apenas empatadas duas equipas, verificou-se o resultado do jogo entre as equipas empatadas e como a Itália tinha vencido (14-7) a Espanha, ficou classificada em terceiro lugar enquanto que a melhor diferença espanhola de marcados e sofridos não lhes valeu mais do que um último lugar. O fecho do agrupamento para os quartos-de-final, de acordo com as regras estabelecidas, decidiu-se pela França e Bélgica, juntando-se a Itália à Espanha na disputa da taça dos últimos.
Justo?! Na aparência, parece. Mas é ilusão. Não me parece justo nem tão pouco desportivamente interessante. Vejamos.
A Espanha com os mesmos pontos dos terceiros mas com a melhor diferença de pontos de jogo marcados e sofridos de todos eles, teria, com as regras aplicadas ao grupo de Portugal, sido qualificada em detrimento da França que ficaria limitada a lutar pela Bowl. Argumentar-se-á que, tratando-se de duas equipas, o mais justo será classificar primeiro a equipa que venceu o jogo entre as empatadas. Será?!
Em grupos reduzidos como se verifica quer nos sevens quer nos campeonatos mundiais ou internacionais para que haja um empate entre duas equipas é preciso que a derrotada ganhe jogos, muito provavelmente a equipas que derrotaram a que a venceu. Foi o que aconteceu no Grupo C de Moscovo: se a Itália venceu a Espanha, a Espanha venceu (19-14) Gales que venceu largamente a Itália com um contundente 26-0. Ou seja a vitória ou derrota no jogo entre espanhóis e italianos não define nenhuma qualidade especial. Aliás este critério pode até, em grupos com maior número de equipas concorrentes, levar ao absurdo de reduzir a luta pelo último lugar aos dois jogos entre os últimos classificados de um campeonato para saber quem descerá de divisão.
O mesmo não se passa com a diferença entre pontos marcados e sofridos que fornece uma ideia da capacidade global de cada equipa, tornando-se assim num sistema mais justo de desempate - jogando contra as mesmas equipas uma diferença positiva de pontos marcados e sofridos terá de significar qualquer coisa de mais positivo do que uma diferença negativa, classificando um mérito mais alargado como se pretende para a classificação de grupos.
Até porque, se as derrotas ou vitórias apenas estabelecem uma pontuação que é indiferente aos valores do resultado, a diferença marcados/sofridos diz qualquer coisa sobre o jogo e a valia das equipas (por isso perguntámos: perdeu? por quantos?). Até porque o sistema que privilegia o resultado do jogo entre os empatados cria um problema de competitividade: equipa da zona da luta pelo apuramento que seja derrotada não tem hipóteses de se continuar a bater pela melhor posição - em caso de empate fica sempre atrás. Pelo contrário, utilizando a diferença de pontos marcados e sofridos qualquer equipa, em caso de derrota e se conseguir os mesmos pontos de classificação, tem hipóteses de conseguir ultrapassar a adversária desde que consiga marcar muito e sofrer pouco. Ou seja a utilização deste critério, para além de mostrar a consistência de uma equipa, aumenta o interesse competitivo.
Para além destes argumentos há ainda, ao garantir o mesmo critério prioritário de desempate para todas as situações, a facilidade de percepção do sistema pelos adeptos. O que não é despiciendo.
Se assim é, se as vantagens parecem evidentes, porque não é utilizado para qualquer situação a diferença de pontos marcados e sofridos como critério prioritário de desempate? Por mera habituação?