Sem Falcao, a Colômbia prospera com James
José Pékerman soube reinventar a selecção colombiana perante a ausência do seu melhor avançado e deu-se bem.
Como é que a Colômbia sobreviveu à ausência de Falcao? De uma forma muito simples, explica Gabriel Meluk, editor de desporto do jornal colombiano El Tiempo. José Pekerman, o treinador argentino da Colômbia, mudou a maneira de jogar da selecção. “A lesão de Falcao foi uma tragédia nacional, mas Pekerman encontrou uma maneira. Sem Falcao, a selecção joga de maneira diferente. Não tem tanta posse de bola, fica mais expectante, mas sai melhor em contra-ataque”, explica ao PÚBLICO o jornalista colombiano que tem passado as últimas semanas no Brasil a acompanhar o percurso dos “cafeteros”, que hoje terá em Fortaleza, frente à selecção da casa, mais um capítulo.
A Colômbia foi uma das quatro equipas só com vitórias durante a fase de grupos, durante a qual teve o segundo melhor ataque, com nove golos, apenas atrás dos dez da Holanda. Nada mau para uma selecção que foi para o Brasil sem o seu maior goleador. Enquanto Falcao vai torcendo por fora, em Monte Carlo (não fará uma viagem-relâmpago ao Brasil, ao contrário do que chegou a ser noticiado), James Rodriguez vai marcando golos em todos os jogos – é o único ainda em competição a tê-lo feito -, alguns espectaculares, e é, com cinco golos, o máximo goleador do torneio.
“Temos jogadores num momento espectacular e a equipa vai ganhando os jogos com convicção e acreditando que pode chegar longe. É uma selecção com grande confiança”, observa Gabriel Meluk, que salienta o bom espírito colectivo entre os “cafeteros” para o qual contribui a experiência de homens como o capitão de 38 anos Mário Yepes, “o melhor defesa-central da história da Colômbia”, ou o super-veterano guarda-redes Faryd Mondragón, “o general dos generais” que, não sendo o titular – é Ospina o dono das redes colombianas -, está lá para transportar a chama da geração anterior. E Pékerman recompensou-o com uns minutos no terceiro jogo da fase de grupos para se tornar, aos 43 anos, no jogador mais velho da história do Mundial.
Os “cafeteros” estão, assim, prontos para fazer história e alcançar algo que a Colômbia nunca conseguiu, de estar entre as quatro melhores selecções do torneio – o melhor que havia conseguido foi uma passagem aos “oitavos” no Mundial 1990, eliminados pelos Camarões. Essas equipas dos anos 1990 tinham grandes nomes, como Valderrama, Asprilla, Rincón, Higuita, mas pouco alcançaram em grandes competições. A diferença dessas equipas para esta Colômbia de Pékerman é, sustenta Gabriel Meluk, experiência internacional de quase todos os jogadores. “Têm outra maneira de ver o jogo, outra competitividade”, sustenta o jornalista combombiano. Vinte dos 23 eleitos de Pékerman actuam fora da Colômbia e, destes, 16 estão no futebol europeu, dois deles em Portugal e no FC Porto, Jackson Martínez e Juan Quintero, e mais três que já passaram pelo futebol português, James, Arias e Guarin.
“Os nossos jogadores aprenderam a jogar contra adversários de grande nível. Esta nova geração olha Messi o Cristiano Ronaldo nos olhos, não os vê nos jornais ou pela televisão”, refere Meluk. O jornalista do El Tiempo dá dois exemplos paradigmáticos, os de Falcao e James (“melhor jogador do Mundial”), que saíram cedo do futebol colombiano, fizeram a fase final da sua formação na Argentina, respectivamente no River Plate e no Banfield, e explodiram no futebol europeu, primeiro no FC Porto, agora no milionário Mónaco. Pékerman, “homem inteligentíssimo”, perdeu uma “estrela” e construiu uma equipa e “descobriu” uma nova “estrela”. Na Colômbia, de Cartagena a Bogotá, estão prontos para mais uma festa.