Da veterania

Uma dignidade lenta que não se percebe se é o filme que impõe aos actores ou se são os actores que impõem ao filme - notar os modos e o estar de Kevin Costner, que ainda não perdeu aquela rectidão garycooperiana da sua juventude.

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Só por Costner vale a pena ir picar o ponto a "Draft Day"

E em Draft Day, de facto, há uma ausência de frissons e de sensacionalismo que não parece deste tempo ou deste lugar – e que não virá necessariamente dos anos 80 mas vem por certo de algo que nos anos 80 ainda existia e hoje está aparentemente em vias de extinção: a famosa “linha média” do cinema industrial americano.

A história de Draft Day, contada a europeus, é bastante esdrúxula, baseada como está numa prática recorrente do desporto americano sem nenhuma tradição na Europa. O draft, o momento preciso da época desportiva em que os clubes profissionais “alistam” nas suas fileiras, segundo uma ordem de prioridade de previamente definida ou negociada, os mais promissores atletas vindos do circuito universitários.

O draft day, que não implica portanto apenas fazer a escolha certa, mas encontrar maneira de estar em posição de fazer a escolha certa, é a grande preocupação de Costner, manager de um clube de futebol de Cleveland (“futebol americano”, claro, o que vem mesmo a calhar para uma estreia em pleno Mundial de soccer...), que ele tem que fazer coexistir com outras preocupações: a mãe (outra veterana, Ellen Burstyn, bons olhos a vejam), a namorada que está grávida (Jennifer Garner), o dono do clube (Frank Langella) que desconfia das suas capacidades e parece hesitar se não deve contratar um homem mais novo para aquele lugar (o tempo passa: Costner já tem 59 anos).

Estamos mais próximos de Clint Eastwood do que de Moneyball, o que é simpático, num filme que “sofre” a modernidade - neste caso, no desporto - mais do que se estasia com ela. Depois, se tudo é razoavelmente desenxabido, e muito passa pelos diálogos e pelas conversas de bastidores a marcar e a ganhar terreno (coisas que Reitman não tem muitas ideias para filmar, como se vê pelo uso recorrente do split screen sempre que alguém fala ao telefone com alguém), o que torna o filme razoavelmente simpático é mesmo a sua calma, a sua recusa em apressar-se, uma espécie de dignidade lenta que não se percebe se é o filme que impõe aos actores ou se são os actores que impõem ao filme - notar, em especial, os modos e o estar de Kevin Costner, que ainda não perdeu por completo aquela rectidão garycooperiana da sua juventude.

Não é o filme que a maturidade de Costner merecia, nem ele tem um filme que o mereça há muito tempo. Mas ainda faz toda a diferença. Imaginamos, por exemplo, Tom Cruise neste papel, a trazer aquela hiperactividade que já tornava insuportável Jerry Maguire (para dar outro exemplo de filme sobre desporto). Costner é tão mais cool, que só por ele vale a pena ir picar o ponto a Draft Day.

 

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