A qualidade da Holanda resistiu ao boletim meteorológico
Dois golos nos últimos minutos da partida viraram um resultado desfavorável para a equipa de Van Gaal.
Durante 50 minutos, a tese de que o calor é o principal adversário dos europeus no Mundial 2014 ganhou pontos no “Castelão”. A jogarem no Nordeste brasileiro, no “temível” horário das 13h, os holandeses, fogosos na fase de grupos, surgiram apáticos e lentos. A temperatura (cerca de 30º) e a humidade (pouco superior a 70%) emergiram como óbvios culpados de mais um previsível falhanço europeu, mas o terceiro jogo dos oitavos-de-final do Mundial 2014 ajudou a desmistificar a teoria.
Com condições idênticas às que se registam no Sul da Europa quando arrancam os campeonatos, a Holanda começou por ser vítima de si própria e de um México que abandonou o Mundial de cabeça bem erguida. Tal como tinha acontecido na fase de grupos, Miguel Herrera não se deixou intimidar pelo nome do adversário. Sem medo, o seleccionador mexicano manteve o 5x3x2 habitual e lançou em campo o “trintão” Salcido, que conhecia bem o rival (jogou cinco épocas no PSV).
Com Robin van Persie de “folga” — depois de cumprir castigo contra o Chile, passou ao lado do jogo —, Van Gaal surpreendeu ao apostar em Verhaegh (o defesa do Augsburgo não justificou a aposta) e sofreu um forte revés com a lesão de Nigel de Jong aos 9’. Com a saída de uma das traves-mestras da equipa, Blind passou para o centro e Martins Indi ocupou o lado esquerdo do trio defensivo. As alterações forçadas desequilibraram a “laranja” e o México agradeceu.
Mesmo com menos posse de bola, os mexicanos estiveram sempre por cima na primeira parte e Herrera (17’) e Giovani dos Santos (24’) provocaram os primeiros sustos a Cillessen. Presos numa bem construída teia, os vice-campeões do mundo apenas aos 29’, por Van Persie, remataram com (pouco) perigo à baliza de Guillermo Ochoa. No entanto, quem tem Robben arrisca-se a marcar mesmo sem merecer: no período de descontos da primeira parte, o “11” holandês foi travado duas vezes em falta na área na mesma jogada (primeiro por Márquez, depois por Moreno), mas Pedro Proença nada assinalou. Na sequência da jogada, Moreno lesionou-se e, após o intervalo, o portista Reyes, que se estreou na prova, substituiu o defesa do Espanyol.
E a segunda parte não podia começar melhor para o México. Logo aos 48’, Giovani dos Santos aguentou a pressão de dois holandeses e, com um remate oportuno, colocou justiça no marcador. Em vantagem e com o calor como teórico aliado, os mexicanos pareciam ter do seu lado todos os trunfos para provocar a primeira grande surpresa nos “oitavos”.
Mas a Holanda estava longe de estar derrotada. Aos 56’, Van Gaal corrigiu um dos erros iniciais e substituiu Verhaegh por Memphis Depay. Com a entrada do jovem avançado do PSV, Kuyt passou a fazer todo o flanco direito e o reforço da artilharia ofensiva assustou os mexicanos, que começaram a defender a curta vantagem cedo de mais — aos 62’, Herrera trocou dos Santos por Aquino.
Com o México demasiado recuado, a Holanda lançou-se no ataque e, à semelhança do que tinha acontecido no jogo contra o Brasil, Ochoa surgia sempre no caminho da bola. Mas, desta vez, o ex-guarda-redes do Ajaccio não conseguiu terminar o encontro novamente como herói. Aproveitando uma bola perdida à entrada da área, Sneijder rematou imparável para o fundo da baliza e empatou o jogo.
O relógio apontava para o minuto 88 e as equipas pareciam condenadas ao prolongamento, mas Robben ainda tinha um coelho para tirar da cartola: no quarto minuto de descontos, o holandês voltou a ser tocado dentro da área por Márquez. Desta vez Proença assinalou falta e Huntelaar, que tinha substituído Van Persie, não tremeu. Apesar do calor e (principalmente) do idóneo México, a Holanda ainda não vai voltar para casa.
Ficha de jogo, estatística e comparação de jogadores