A loja que se transforma chegou à baixa do Porto
O espaço alberga 22 empresas, de diferentes estruturas e proveniências.
“São lojas pop-up, lojas temporárias com a ideia que, sempre que o público cá vier, vai haver novidades”, explica Rita Almada, responsável pelo espaço. É numa das ruas mais tradicionais do Porto que vive um dos conceitos mais inovadores, dos muitos que invadem a baixa portuense por estes dias.
Aberto desde o ano passado, começou por ser um local, exclusivamente, dedicado aos workshops. A génese da ideia surgiu na experiência de Rita como organizadora de eventos: “Fazia muitos eventos com chefs de cozinha e fiquei viciada nesses trabalhos porque os chefs são pessoas incríveis, com muita criatividade e porque descobrimos que as pessoas adoram cozinha, adoram esse tipo de experiências”.
Os workshops foram a primeira fase do projecto mas, depois do sucesso da experiência, pensou-se em alargar o conceito de exposição temporária de componente criativa às lojas. O espaço construiu-se em torno de “uma ideia de mutação que suscitou a vontade de ter um espaço que surpreendesse as pessoas”.
O espírito transbordou para a decoração do espaço, “não muito sofisticada”, que ajuda os clientes a terem “um comportamento muito informal, divertido, com pouca expectativa, cooperante”. No fundo, um ambiente mais alternativo.
As diferentes lojas e criações que, na sua diversidade, formam a identidade comum da Workshops Pop-Up foram, segundo Rita Almada, escolhidos “por serem exemplos de vida, não necessariamente profissionais”. As 22 lojas que compõem o espaço têm diversas origens, “desde empresas que estão a começar até pessoas individuais que ainda não começaram a sua empresa e que começaram aqui o seu negócio, passando por empresas com estruturas enormes e que querem vir para aqui”.
Os padrões coloridos das sapatilhas da Cortebel são presença assídua. Fundada em 1965, foi responsável pela produção das botas militares e, mais tarde, dos sapatos desportivos que encheram as aulas de ginástica. Apesar da tradição, “os novos caminhos” fizeram Artur Piano abrir o seu espaço aqui: “Estas lojas são canais diferentes e têm um público mais específico, menos formatado, muitos estrangeiros e pessoas que querem ser surpreendidas”.
Aos novos públicos, juntam-se as oportunidades de negócio. “Nós temos um conjunto de stocks muito antigos, de há 20 anos, que são restos de produção e a ideia era apresentarmos aqui os nossos produtos vintage e os nossos produtos novos e não é fácil arranjar uma loja onde temos essas duas propostas juntas”, explica Artur Piano. Esta ideia é também seguida pela Don Caco: “Lidamos com quantidades muito grandes, com produtos originais e ficamos com excedentes que pomos à venda em Portugal, aqui na Workshops Pop Up”.
Raul Pulido Valente, responsável pela marca, explica que os produtos de cerâmica “são feitos para clientes estrangeiros”, embora “produzidos em fábricas portuguesas”. A presença neste espaço permite que “produtos que, às vezes, no estrangeiro atingem valores muito altos, consigam um nível de preço muito competitivo”.
“Acho que é importante porque as pessoas que vêm ver as outras marcas, vêem também a nossa e vice-versa e gera-se uma dinâmica entre os clientes que têm uma escolha muito mais ampla”, considera Raul. Presente na loja desde Fevereiro, tem como companheiros cervejas feitas artesanalmente, quadros personalizados e marcas de roupa, como a Cool, Soft & Chic, onde Teresa e Helena criam e comercializam os seus modelos.
“Aqui pode-se encontrar um universo que corresponde às necessidades de cada um porque em vez de ir a tantas lojas, neste conceito consegue-se encontrar resposta para o que se procura para várias situações”, consideram as duas criadoras que destacam ainda “as sinergias que, se cada um abrisse a sua própria loja, não seriam criadas”.
A convivência, no mesmo espaço, de diversos criadores já levou a interacções e colaborações, como a artista Barts que já desenhou sapatilhas para a Cortebel.
Na cozinha, passa-se o mesmo. “Eu acho que o espaço reflecte-se, depois, no resultado final. Usamos tudo o que nos rodeia para pôr no prato. Uso coisas como latas de conserva para adequar o que faço ao espaço”, explica Rui Reigota. O chef já foi responsável por seis workshops culinários desde a abertura da loja. “Foram trabalhos como esses que me fizeram sair de quatro paredes, não estar preso a uma ementa fixa, nem estar escondido atrás de uma cozinha sem os clientes me poderem ver directamente”, explica.
A movida portuense começa a destacar-se nos roteiros turísticos. A onda de visitantes, impulsionada pela escolha da cidade como destino europeu do ano, abre espaço para o aparecimento de diferentes conceitos que, como na Rua do Almada, convivem com os modelos tradicionais.
Texto editado por Ana Fernandes