Pedro Magano fez um documentário sobre a missão portuguesa no Iraque de 2003
O atentado à base italiana em Nassíria, no Iraque, em Novembro de 2003, é o acontecimento que marca militares e jornalistas portugueses, que se dirigiam para aquela cidade. Pedro Magano quis contar a história, num "doc" que vive muito de fotografias
“Era uma vez no Iraque” é o nome do primeiro documentário realizado por Pedro Magano, director de fotografia de 33 anos que quis contar a história do atentado à base de Nassíria, naquele país, a 12 de Novembro de 2003, com testemunhos de militares e jornalistas portugueses que para lá se dirigiam. Pronto desde 2013, aquando do 10.º aniversário do atentado, o documentário tem ante-estreia marcada para sábado, 21 de Junho, na Casa das Artes, no Porto (18h30, entrada livre).
Conta Pedro Magano ao P3 que a ideia para “Era uma vez no Iraque” surgiu quando fazia o episódio de um programa de fotografia para a RTP. Na altura, “há quatro ou cinco anos”, entrevistavam Alfredo Cunha que, ao contrário do que todos pensavam, elegeu uma fotografia do Iraque — e não do 25 de Abril — como a mais marcante da sua carreira. Cunha contou a história da tal imagem, recordando a viagem do contingente da GNR e dos jornalistas para Nassíria e do que aconteceu na base militar então ocupada por italianos.
“Os portugueses escaparam à morte por uma questão de minutos. Por coincidência, quase”, diz o também realizador. 19 italianos (17 militares e dois civis) morreram, juntamente com civis iraquianos. Ligado a este atentado e ao facto de militares portugueses irem assumir o controlo da base de Nassíria está, também, o rapto do jornalista da TSF, Carlos Raleiras, e do tiro de que Maria João Ruela, da SIC, foi alvo. Todos falam no documentário, de 50 minutos, que vive muito das “mais de cinco mil fotografias tiradas por Alfredo Cunha”, à época corresponde do “Jornal de Notícias”, e das nove entrevistas realizadas.
“Sim, é mais um documentário sobre o Iraque e mais um em que a mensagem é que quem sofre com as guerras não é quem as faz, mas sim o povo. Mas visto que a necessidade aguçou o engenho, o factor diferenciador é ser um trabalho de 50 minutos em que 80% são fotografias e 20% são entrevistas”, descreve o realizador. As fotografias escolhidas foram trabalhadas em Photoshop, para terem o efeito de movimento de câmara, continua, e a concepção gráfica foi, também, muito trabalhosa.
Uma vez que a vida dos portugueses envolvidos “nunca mais foi a mesma” — uma pessoa foi baleada, outra raptada, outros ainda escapam à morte e relativizam a vida —, Pedro Magano foi buscar elementos à ficção: “storyboard, quadradinhos, o tipo de fonte e textura, as anotações”. Quando todos os intervenientes terminam de contar a sua história em torno de Nassíria, também o “doc” termina, com fotografias de iraquianos a olharem para a objectiva.
Além de ser o primeiro documentário em que Pedro Magano assina como realizador — já fez vários, mas sempre a trabalhar como director de fotografia, área na qual é formado —, “Era uma vez no Iraque” é também o primeiro “doc” da produtora que o mesmo ajudou a formar, a Pixbee, que aqui tem um parceria de agenciamento com a filmesdamente. A ante-estreia coincide com a fuga de milhares de iraquianos para o Curdistão devido, entre outros motivos, à acção de um grupo sunita, o Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIS).