Entrega de prémio Fé e Liberdade a Alexandre Soares dos Santos causa indignação
Carta assinada por 30 personalidades critica escolha do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica.
A missiva conta com a assinatura de personalidade de vários quadrantes da sociedade, desde médicos a docentes e investigadores. Entre os signatários destacam-se nomes como o de Frei Bento Domingues, dos jornalistas Jorge Wemans, Paula Moura Pinheiro e António Marujo, dos professores universitários José Mattoso, Rui Vieira Nery, Teresa Toldy e Isabel Allegro de Magalhães.
Os autores da carta dizem que “foi com grande perplexidade, tristeza e indignação” que receberam a decisão da entrega do galardão ao ex-presidente do grupo Jerónimo Martins, “designado um dos homens mais ricos de Portugal”. “Por definição, um prémio tem um valor simbólico e testemunhal, pelo que, nas presentes circunstâncias, ocorre perguntar: O que é que se pretende enaltecer? Que valores merecem apreço explícito por parte da Universidade Católica Portuguesa? Quais os conceitos de fé e de liberdade que estão implícitos nesta atribuição?”, questionam.
Na carta, os autores reiteram que as “dúvidas” e “motivos de perplexidade” fazem com que rejeitem “liminarmente” a atribuição do prémio e insistem em perguntar se o galardão pretende distinguir a “colossal fortuna pessoal” de Soares dos Santos, “uma forma de enriquecimento baseada nos ganhos do capital e sua acumulação” ou “um modelo de economia que permite o desemprego massivo, a grande concentração do património individual e correspondente poder político, com risco para a democracia e para a coesão social”. Acusam ainda o distinguido de ter utilizado “práticas de exploração do trabalho humano”, bem como “expedientes fiscais para fugir aos impostos”.
“Em nosso entender, [a escolha de Soares dos Santos] vai ao arrepio de uma concepção da fé cristã compatível com a Doutrina Social da Igreja e, de modo particular, daquilo que tem sido o ensinamento e os apelos mais recentes do Papa Francisco”, prossegue a carta, na qual os autores acrescentam que gostariam de ver a Universidade Católica “empenhada na denúncia de ‘uma economia que mata’ em especial pelo que produz de grande pobreza, desemprego massivo, excessivas e crescentes desigualdades, riscos ecológicos sérios,… constituindo uma das maiores ameaças à liberdade e à democracia”. E rematam que a denúncia não é motivada por “qualquer ressentimento contra a pessoa do projectado agraciado, mas sim o dever de, em consciência, vir tornar audível a voz dos cristãos que não querem – não podem – silenciar a sua indignação.