Petrolíferas em alerta após ataque a refinaria iraquiana
Governo chinês retira trabalhadores das zonas mais perigosas. Exército garante controlo da unidade de Baiji
Os combates da última semana não atingiram de forma significativa as principais infra-estruturas do Iraque e desenrolam-se longe dos grandes campos petrolíferos do Sul, local de origem de mais de três quartos da produção iraquiana.
Mas o ataque à refinaria de Baiji, 200 quilómetros a norte de Bagdad, e as notícias de que o Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIS) atacou uma aldeia próxima de Kirkuk – cidade ocupada na semana passada pelas forças curdas e que se situa junto às principais reservas petrolíferas do Norte do Iraque – abalaram a calma contida que até agora impediu a subida em flecha dos preços do crude.
Tal como na Síria, onde o ISIS se apoderou de parte da produção situada no Leste do país, a captura de poços e refinarias garantiria aos jihadistas combustível e financiamento, negando um e outro ao Governo iraquiano. Só que o prémio é muito maior no Iraque que, depois do investimento estrangeiro dos últimos anos, se tornou o segundo produtor da OPEP, atrás apenas da Arábia Saudita.
Ainda em Fevereiro, a Agência Internacional de Energia revelou que a produção iraquiana tinha atingido os 3,4 milhões de barris diários, o maior nível desde a chegada de Saddam ao poder, em 1979. Mas logo em Março, o oleoduto que liga Kirkuk ao porto turco de Ceyhan foi encerrado após ataques do ISIS. Agora, com o conflito instalado em boa parte do Norte, as petrolíferas temem que a guerra alastre e evapore os investimentos feitos nos últimos anos. E se houver uma redução drástica nas exportações iraquianas – cujo crescimento ajudou a responder ao crescimento da procura mundial – o preço do barril disparará.
No rescaldo do ataque a Beiji – o Exército garantiu durante a tarde que os últimos rebeldes abandonaram a refinaria, mas testemunhas disseram à Reuters que ainda se ouviam combates –, o Governo chinês anunciou que vai retirar os trabalhadores que se encontram “em zonas onde a situação é mais grave”. Para responder à procura incessante do seu mercado, Pequim tornou-se o maior investidor no sector petrolífero do Iraque, onde trabalham dez mil chineses, e apesar de a maioria do capital ter sido aplicado no Sul não há certeza de que a guerra não chegue ali. A BP, que explora um campo na região onde todos os dias são produzidos 1,4 milhões de barris, anunciou também que vai retirar do local o pessoal não essencial.
Mas o primeiro impacto foi sofrido pelos iraquianos: após o ataque a Baiji, onde é refinado um terço do combustível para consumo interno, as filas para abastecimento triplicaram em Irbil e Kirkuk e o preço da gasolina mais do que duplicou num único dia.