Antigo guarda de Auschwitz preso nos EUA aos 89 anos

Alemanha pede a extradição de Johann Breyer, um ex-SS que emigrou para os Estados Unidos em 1952.

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Centenas de milhares de judeus foram mortos no campo de concentração de Auschwitz Peter Andrews/Reuters

Nascido na antiga Checoslováquia de mãe americana, Breyer emigrou em 1952 para os EUA, onde foi serralheiro mecânico, casou, teve filhos e netos. Mas o passado começou a persegui-lo quando entrou na reforma. Na década de 1990, as autoridades norte-americanas tentaram retirar-lhe a nacionalidade e deportá-lo para a Alemanha, mas o processo terminou quando um juiz decidiu que, por causa da mãe, Breyer era americano de nascimento.

Mas a Alemanha decidiu reabrir o processo em 2012 com base em novas provas, incluindo registos que mostram que ele entrou ao serviço em Auschwitz antes do que ele tinha anteriormente admitido e que chegou a estar colocado no campo anexo de Birkenau, dedicado exclusivamente ao extermínio. O pedido de extradição alega que foi cúmplice na morte de centenas de milhares de judeus durante a II Guerra Mundial a justiça americana manteve 158 acusações, ordenando a sua detenção, na terça-feira.

Breyer admitiu ter pertencido às Waffen SS, a unidade de elite de Hitler que foi responsável pelos campos de concentração, mas insiste que foi colocado numa unidade de artilharia estacionada fora de Auschwitz, não tendo tido qualquer ligação directa ao que acontecia dentro do campo, onde centenas de milhares de judeus foram mortos, muitos nas câmaras de gás para onde eram levados logo à chegada, outros quando já não tinham forças para aguentar os trabalhos forçados.

“Ele nunca esteve envolvido em crimes de guerra nem nunca foi um nazi”, afirmou quarta-feira em tribunal o seu advogado, Dennis Boyle, alegando que Breyer desertou semanas depois de ter sido colocado em Auschwitz, acabando por ser capturado por soldados russos no final da II Guerra. “Ele foi tanto uma vítima dos nazis como os outros. Nunca se voluntariou para as SS, não queria estar nas SS e desertou”, garantiu.

Boyle adianta ainda que o seu cliente tem problemas cardíacos e “sofre de demência”. Na primeira audição em tribunal, houve momentos em que aparentou estar confuso e sem perceber o que se passava à sua volta, escreveu um jornalista no local. Mas o juiz recusou fixar uma caução para a sua libertação, assegurando que a unidade onde vai ficar em prisão preventiva tem condições para lhe assegurar os devidos cuidados médicos.

Efraim Zurroff, responsável pela identificação e localização de criminosos nazis do centro Simon Wiesenthal em Jerusalém, disse à BBC não ver razões para travar a extradição. “Há um país que o quer julgar e tem bases para o pedido, os EUA estão ansiosos por se ver livres de todos os nazis que emigraram para lá, não haverá obstáculos”, afirmou. O responsável elogiou ainda as autoridades alemãs por este “último esforço para acusar os criminosos nazis”.

Durante quase 60 anos, os tribunais alemães julgaram apenas elementos do regime nazi sobre os quais existem provas de envolvimento directo nas atrocidades cometidas antes e durante a II Guerra. A prática foi alterada depois de, em 2011, um tribunal de Munique ter condenado a cinco anos de prisão um antigo guarda de Auschwitz que emigrara para os EUA, abrindo um precedente que desde então foi usado para acusar outros soldados com as mesmas responsabilidades.

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