Retomar o desenvolvimento – o pensamento de Donald W. Winnicott em congresso

O interesse do estudo das ideias veiculadas por Winnicott está não só na optimização dos processos de cura (dentro dos consultórios dos psicanalistas), como também na aplicação prática e preventiva destes conceitos no plano social mais alargado.

Dito de outra forma, é alguém que sente, de forma intuitiva, que se lhe for possibilitado um estilo relacional voltado para a reflexão sobre si mesmo, onde possa pensar tudo sem tabus nem medos, com respeito e tolerância, e com o olhar na expansão das competências que ficaram inibidas ou sub-desenvolvidas ao longo do seu desenvolvimento, conseguirá desvelar um estilo relacional mais fluido, feliz, criativo, menos crítico consigo mesmo e com os outros, mais resiliente e expansivo.

Sente-o de forma intuitiva porque na matriz original do sujeito existem forças psíquicas que, como diria Winnicott, tendem para a saúde mental, se assim agir como facilitador o meio humano e relacional sentido como “suficientemente bom” no acolhimento, compreensão e atendimento das necessidades e características do bebé, as quais o autor designou por “gesto espontâneo” do bebé.

A pessoa que procura a psicoterapia sente, ainda que às vezes não o consiga explicar verbalmente (saturada que está de estilos relacionais e comunicacionais frustrantes e/ou agressivos), que se encetarem consigo uma relação centrada em si própria e com o olhar entusiasmado nas suas competências e qualidades, então poderá amadurecer e sentir-se mais livre, cooperativa, tolerante e confiante com o seu modo de se relacionar com o seu mundo interno e externo. A balança relacional passa a pesar mais do lado das competências. Competências todos temos, mas a verdade é que não são todas as relações que as sabem estimular em nós. E o ser humano desenvolve-se na relação e através da relação.

Esta será mesmo a essência do trabalho psicoterapêutico: oferecer-se como uma relação centrada na pessoa do paciente, voltada para as competências, para a responsabilização do próprio pela sua vida, para a construção de uma vida que o próprio sinta que é digna de ser por si vivida… e que vai sendo descoberta ao ritmo único do par terapeuta-paciente.

Neste sentido, o interesse genuíno pelo paciente é um ingrediente distintivo e deve servir de fator de diagnóstico para o bom crescimento e desenvolvimento da relação terapêutica. Quando gostamos de alguém, sentimos interesse e prazer em estar com ela, mas sobretudo apostamos nessa pessoa. Apostamos/cremos no seu desenvolvimento/crescimento, e é esse entusiasmo e crença que são sentidos, na comunicação intersubjetiva, pelo paciente e potenciam neste um olhar sobre si mesmo noutra perspetiva: como alguém gostável, mas sobretudo como alguém com potencial e valor. Um olhar fundamental para dar sentido e projecto de vida ao sujeito. Um olhar que faz nascer psicologicamente o sujeito – como ser humano com futuro na sua sociedade.

Pensando na influência do pensamento de Winnicott (psicanalista e pediatra inglês) na psicanálise actual, a Associação Portuguesa de Psicanálise e Psicoterapia Psicanalítica (AP),  presidida pelo Prof. Dr. António Coimbra de Matos e cuja comissão de ensino é presidida pelo Prof. Dr. Carlos Amaral Dias, vai realizar nos próximos dias 20 e 21 de Junho, no ISPA, um congresso dedicado a este que é um dos psicanalistas com mais importância para o desenvolvimento das descobertas de Freud, nomeadamente no que diz respeito ao tratamento e prevenção de doenças de foro psico-emocional graves.

O congresso vai ter por título "A retomada do amadurecimento". Um conceito winnicottiano que tem por base o princípio de que a doença psíquica ocorre no ser humano sempre que este se vê impedido de amadurecer (evoluir). Isto é, o ser humano teria como tarefa conduzir e levar a bom porto a sua própria vida, adoecendo sempre que tal não acontece. As formas de adoecer são variadas, mas o sofrimento humano gira sempre em torno de questões básicas, como: sentir-se real e sentir que a vida vale a pena, sentir-se útil e capaz de conciliar sentimentos de ódio e frustração com sentimentos de amor e realização (sendo que na saúde imperam os segundos) e ter capacidade para gerir os afectos nas relações interpessoais. 

O interesse do estudo das ideias veiculadas por Winnicott está não só na optimização dos processos de cura (dentro dos consultórios dos psicanalistas), como também na aplicação prática e preventiva destes conceitos no plano social mais alargado como, por exemplo, em contextos escolares, hospitalares e instituições de trabalho com pessoas de todas as idades. Por isso, pensamos que o II Congresso sobre o Pensamento de Donald Winnicott é útil para vários públicos: psicólogos, médicos, assistentes sociais, enfermeiros, fisioterapeutas, animadores sociais, professores; pais ou educadores que tenham a cargo crianças ou adolescentes; profissionais que trabalhem com idosos; ou simplesmente pessoas interessadas na compreensão da natureza humana e no auto-conhecimento.

Realizado em colaboração com a Sociedade Brasileira de Psicanálise Winnicottiana, e com o apoio da International Winnicott Association, este Congresso vai ser um momento único de possibilidade de aprendizagem e enriquecimento pessoal e profissional, contando com a presença de ilustres psicanalistas nacionais e internacionais, como António Coimbra de Matos, Carlos Amaral Dias, Cláudia Dias Rosa, Elsa Oliveira Dias, Laura Dethiville, Roseana Garcia, Zeljko Loparic. Porque acreditamos que o diálogo multidisciplinar é enriquecedor, contamos ainda com a presença do Prof. Dr. João Maria André, da área da Filosofia, e do Prof. Dr. João Gomes Pedro, da área de pediatria.

Estamos confiantes que este será um Congresso com grande adesão e rico debate de ideias dentro da área da saúde e de grande utilidade para todos os profissionais que se interessam pela saúde e bem-estar social.

 

Catarina Rodrigues, Cláudia Fonseca, Felisberto Cardoso, Irene Borges Duarte, João Boavida, Maria do Rosário Belo e Tiago Sequeira, psicoterapeutas

winnicottlusobrasileiro@gmail.com; www.apppp.pt

 

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