Favorito denuncia fraude eleitoral nas presidenciais do Afeganistão

Candidato acusa o Presidente Hamid Karzai de prejudicar a sua candidatura em favor do seu adversário Ashraf Ghani. À BBC Karzai rejeita cenário de crise política e violência e instabilidade após a retirada das tropas internacionais no fim do ano.

Foto
Abdullah acusa o Presidente Karzai de estar a favorecer o seu adversário WAKIL KOHSAR/AFP

Abdullah, um dos porta-vozes da Aliança do Norte que lutou contra o regime taliban, e antigo ministro dos Negócios Estrangeiros depois do início da missão militar da NATO no Afeganistão, denunciou uma série de irregularidades eleitorais e falou em actos de perseguição e intimidação aos seus apoiantes, para pôr em causa a comissão eleitoral independente e o resultado do escrutínio.

Segundo o candidato que era dado como ligeiramente favorito, muitas das urnas de voto que ainda não chegaram a Cabul terão sido “desviadas” a caminho, para serem cheias com votos no seu adversário Ashraf Ghani – o que explicaria o “inflacionamento” da taxa de participação eleitoral anunciada. O concorrente mencionou ainda o espancamento e detenção de observadores da sua campanha, no que considerou ser uma acção concertada para prejudicar a sua prestação eleitoral.

Abdullah Abdullah (que ficou à frente na primeira volta da votação) acusou ainda o Presidente Hamid Karzai de não ter cumprido o seu dever de neutralidade e de ter interferido no acto eleitoral em benefício de Ashraf Ghani. Em 2009, o candidato acabou por desistir da corrida na segunda volta contra Karzai, também por alegações de fraude.

Dizendo ter perdido a confiança na isenção das autoridades eleitorais do país, Abdullah exigiu o afastamento de alguns dos seus dirigentes e suspendeu a colaboração da sua campanha no processo de contagem dos votos.

Equipas de observadores internacionais apontaram para alguns problemas no decurso da votação, principalmente por deficiências logísticas ou riscos de segurança, mas sancionaram a transparência e legitimidade do acto eleitoral de sábado. Mais de sete milhões de eleitores participaram no escrutínio: segundo o calendário estabelecido, os resultados preliminares serão divulgados no dia 2 de Julho e o vencedor declarado no fim do mês.

A eleição tem um carácter histórico no Afeganistão, onde pela primeira vez um governo democraticamente eleito será substituído por outro escolhido através do voto livre. Hamid Karzai, que liderou os sucessivos governos depois da deposição dos taliban, em 2001, estava constitucionalmente impedido de se candidatar a um terceiro mandato.

O Presidente, que abandonará o cargo em Agosto, rejeitou as acusações de fraude nas urnas e, mais importante, afastou o cenário de crise – eleitoral, política ou de segurança. Numa entrevista à BBC, Hamid Karzai desdramatizou os efeitos da retirada das tropas internacionais do Afeganistão e garantiu que o país não corre nenhum risco de regresso da violência sectária como a que se vive actualmente no Iraque.

“Nem pensar, nunca, de maneira nenhuma”, respondeu Karzai à pergunta sobre a possibilidade de vir a acontecer no Afeganistão aquilo que se passa agora no Iraque, nomeadamente o avanço de grupos extremistas islâmicos. “A Al-Qaeda não tem nenhuma presença no Afeganistão”, observou o Presidente, acrescentando que o Governo de Cabul encetou um “diálogo regular” com os taliban para promover a estabilidade no país.

De acordo com Karzai, os contactos com os taliban afegãos – em cartas e reuniões – demonstram que existe um “desejo de paz” depois de décadas de conflitos. “Eles sabem que não conseguem a paz sozinhos, tal como eu, o Governo e o povo afegão sabe que não conseguimos a paz sozinhos”, considerou. O Presidente recusou assinar um acordo bilateral de segurança negociado com a Casa Branca, para garantir a manutenção de um contingente de cerca de 10 mil soldados norte-americanos no Afeganistão até 2016. No entanto, os dois candidatos presidenciais comprometeram-se a firmar esse compromisso, que estabelece a cooperação militar com os Estados Unidos para além do fim da missão militar da NATO e o regresso a casa das mais de 30 mil tropas americanas, em Dezembro.

Sugerir correcção
Comentar