Seguro acusa Costa de só avançar por a vitória do PS em 2015 ser uma certeza

Secretário-geral afirma que não quer "o poder pelo poder" nem para “distribuir benesses por apaniguados”. E nota que não ouve nada de diferente das suas propostas vindo do lado de António Costa.

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Organização de apoio ao secretário-geral do Porto dispensou uma recepção calorosa a Seguro Fernando Veludo/NFactos
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Também anunciou medidas, como a apresentação, até Setembro, de um projecto de redução do número de deputados – algo a que o PS sempre se opôs no passado e que Costa já considerou uma proposta “populista” -, e de adopção, no PS, de um método de escolha dos seus parlamentares em lista aberta (com cada eleitor a ordenar os deputados por ordem de preferência) ou por círculo uninominal, a par da imposição, a cada candidato a deputado do partido, de um código de ética de subscrição obrigatória. E esta foi a única alusão, remota, ao grupo parlamentar do PS, ainda escolhido por José Sócrates, onde um abaixo-assinado contra as primárias abertas de 28 de Setembro, propostas pelo secretário-geral, conta com 45 em 74 assinaturas possíveis.

Seguro, que encontrou à sua espera todos os presidentes de câmara eleitos pelo PS no distrito do Porto (o de Lousada enviou mensagem), começou por dizer que agradecia a presença de todos não em nome pessoal, mas em nome do PS e dos que depositam as suas esperanças no partido. “Não estamos aqui por jogos de poder, estamos aqui por Portugal”. “Para reafirmar que a política pode e deve ser feita a pensar nas pessoas e em princípios e valores”, acrescentou Seguro para levantar, pela primeira vez, a sala que aplaudia e comentava que Costa não reunira tanta gente na semana passada, na apresentação da “base programática” da sua candidatura à liderança do PS, que também decorreu no Porto.

Seguro seguiu depois para a defesa da ideia de que as propostas que apresentou nos últimos três anos - nem sempre com grande adesão, admitiu -, nomeadamente as de que urgia combater a corrupção, abrir os partidos à sociedade civil, criar emprego e exigir outra atitude da Europa face a Portugal, eram hoje prioridades reconhecidas por todo o país. “Isto foi conseguido graças a vós”, partilhou.

“Como deitar então fora estes anos de trabalho?”, prosseguiu, lembrando que o PS obteve vitórias no Tribunal Constitucional e nalgumas instâncias europeias. Bastou que o BCE avisasse os mercados e especuladores de que defenderia o euro, para que Portugal conseguisse taxas de juro mais baixas, exemplificou.

“Tínhamos as prioridades no sítio certo”, reforçou o secretário-geral, insistindo que o seu projecto para o PS “não visa o poder pelo poder, para distribuir benesses pelos apaniguados”. “Nem os portugueses aceitariam isso”, avisou. “Na política, como na vida, não vale tudo”, exclamou, garantindo que o seu projecto assenta num compromisso “ético”.

Sem nomear António Costa, observou que “há regras de convivência num órgão democrático” e que é “natural” que quem quer ser líder se apresente, “como fez Francisco Assis [cuja lealdade elogiou e que também discursou em defesa de Seguro] há três anos”. “Ninguém mais se chegou à frente. Faltavam quatro anos para as legislativas e o PS vinha da sua maior derrota de sempre”. “Nessa altura”, desenvolveu, “lembro-me de amigos dizerem ‘Não vás agora, para seres queimado’. Mas como é que alguém pode virar as costas ao seu partido no momento mais difícil?”

Seguro também recordou que, no ano passado, quando Costa admitiu disputar-lhe a liderança, dispôs-se, “sem hesitação”, a antecipar o congresso. Costa acabou por recuar. “Mas agora? Quando não estava aberta nenhuma disputa pela liderança? Só porque já é apetecível o poder? Quando já há a certeza de que o PS ganha as próximas legislativas?”, indignou-se, para arrancar mais uma ovação.

“Portugal não precisa de um primeiro-ministro de ocasião. Precisa de um líder que avance nos momentos difíceis”, disparou Seguro, acrescentando que a lealdade e a solidariedade são valores que fazem parte da matriz do PS. “Se não os conseguimos praticar cá dentro, como vamos querer que os portugueses acreditem que os vamos praticar no país?”

António José Seguro recordou ainda que venceu as eleições regionais dos Açores, as autárquicas e as europeias e anunciou outra medida: uma proposta de lei para reforçar as incompatibilidades dos titulares de cargos políticos (por sinal, matéria recentemente objecto de iniciativas legislativas de PCP e BE que o grupo parlamentar do PS chumbou, votando ao lado da maioria PSD/CDS). “Quem tiver dúvidas, faça um favor à política e ao país e fique-se pelos negócios”, desafiou.

E voltou a acertar contas com o socratismo. “Precisamos de um PS renovado, que não renegue nada do seu passado, mas que não transporte nenhum passado para o presente, porque queremos construir o futuro. A partir de hoje, nada ficará como dantes”.

E foi já na ponta final do discurso que nomeou, uma única vez, António Costa. Fê-lo para lamentar que o autarca de Lisboa não tenha aceitado debater consigo nas três televisões e expor aí as suas ideias. “É que devo dizer que, até ao dia de hoje, não ouvi uma única que fosse substancialmente diferente das que temos apresentado”, comentou Seguro, prometendo que, depois de 28 de Setembro e de ultrapassado o “percalço” que não foi criado pela sua direcção, o PS estará pronto para governar.

Recado de Gaia para Soares
Antes de Seguro, discursaram Assis e muitos presidentes da câmara do distrito. Destacou-se a forma como Eduardo Vítor Rodrigues se referiu a Mário Soares, que, logo a seguir às europeias, declarou, entre outras coisas, que aquele resultado mostrava que Seguro não tinha consições para levar o PS a uma vitória clara nas legislativas. O autarca de Gaia, sem hostilizar Soares, recordou que o PS esteve com ele, batendo-se pelas suas convicções, mesmo quando à partida para as presidenciais de 1986, as sondagens lhe davam um resultado muito modesto e uma quase maioria absoluta a Freitas do Amaral.

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