“Honra”, “compromisso”, “palavra”, tem insistido Cavaco nos anos da troika

Desde que a troika chegou, o Presidente da República aproveita os discursos anuais do Dia de Portugal para elogiar os portugueses e distanciar-se dos “decisores políticos”. Em 2011 dizia querer ser um “provedor” dos cidadãos. No ano passado prometeu incutir “ânimo e esperança”.

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Cavaco há um ano em Elvas nas comemorações do 10 de Junho Nuno Ferreira Santos

E logo no início, de um texto de parágrafos curtos, avisou: “Portugal é mais do que a vida dos partidos ou o ruído dos noticiários. […] O Presidente da República tem de escutar o povo e ser o provedor dos seus anseios e das suas inquietações”. Foi há três anos.

Hoje, Cavaco volta às Beiras. Desta vez, a escolhida é a Guarda, um pulinho numa auto-estrada, a A23, que deixou de ser gratuita desde que a troika chegou. E as inquietações e anseios mantêm-se. Isso é visível, até, na evolução dos discursos do Presidente. Se em 2011 Cavaco apresentava “linhas de rumo” para a saída da crise, em 2013, no ano passado, em Elvas, o tom era outro: “Se há quem pretenda alimentar o pessimismo e contribuir para o desânimo dos portugueses, sentimentos que a nada nos conduzem, para isso não contarão comigo.”

Pelo meio ficou o discurso de 2012, feito em Lisboa, onde previu um cenário… desanimador: “Se não for adoptada uma verdadeira agenda europeia para o crescimento económico e para o emprego, a União Europeia arrastar-se-á penosamente numa profunda crise.”

E à chegada à Guarda, na véspera da cerimónia oficial do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, o Presidente da República fez o seu próprio balanço destes anos, que coincidem com o seu segundo mandato: “Questionámo-nos sobre onde começámos a trilhar esta vereda, compreendemos como e porque chegámos aqui. É fundamental que evitemos erros passados, para que no futuro as novas gerações não tenham de voltar a fazer os mesmos sacrifícios.”

O ambiente político não parece favorecer ninguém. O Presidente regista níveis elevados de impopularidade (nota 7,8, de 1 a 20, no barómetro da Pitagórica, publicado no jornal i). O Governo iniciou uma batalha institucional com o Tribunal Constitucional e os partidos que o sustentam sofreram uma pesada derrota nas eleições para o Parlamento Europeu. O PS está em pausa, numa campanha interna pela liderança. E a Europa não consegue chegar a acordo para nomear um Presidente da Comissão que suceda a Durão Barroso.

Há três anos, Cavaco enunciou um “caminho de futuro”: “O desenvolvimento económico de qualquer país depende da preservação de padrões elementares de equidade.” Desde logo territorial, defendia o Presidente. Por isso, apontou um “rumo”: “Desenvolver um programa de repovoamento agrário do interior”; “fazer das cidades de média dimensão pólos de desenvolvimento”. Inspirado na “frugalidade” dos Portugueses do interior apelava a outras virtudes: “a fibra e a determinação”.

Em 2012, voltou a enaltecer “a fibra e o orgulho”. No ano passado citou o “heroísmo e espírito de sacrifício” dos nossos antepassados e apelou à “coragem e determinação” dos que cá estão.

Em todos os discursos que fez, desde que foi assinado o Memorando de Entendimento, Cavaco sublinhou uma mensagem: “Temos de cumprir os compromissos que assumimos, pois Portugal é uma República de bem, que honra a palavra dada” (Elvas, 2013); “É necessário que cada um saiba honrar os seus compromissos, que cada qual saiba merecer a solidariedade dos outros Estados” (Lisboa, 2012); “ Assumimos compromissos perante o exterior e honramo-nos de não faltar à palavra dada” (Castelo Branco, 2011).

Esta é a única constante dos discursos presidenciais, no dia em que o País se celebra a si mesmo. “Honra”, “compromisso”, “palavra”.

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