Aeroporto de Carachi, o mais movimentado do Paquistão, alvo de novo ataque dos taliban

Estas investidas mostram que o país não consegue manter a segurança mesmo em locais vitais.

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Os disparos foram feitos contra um edifício da força paramilitar responsável pela segurança dos aeroportos Athar Hussain/Reuters

A ofensiva ocorreu depois de um ataque de doze horas que começou no domingo e em que morreram 36 pessoas, incluindo dez combatentes taliban – sete cadáveres foram ainda descobertos esta terça-feira, eram trabalhadores do aeroporto que se tinham refugiado num edifício e que não conseguiram sair quando este se incendiou.

Após este ataque, os taliban tinham prometido mais acções. E cumpriram: um porta-voz reivindicou o ataque desta terça-feira, que terminou sem mortos ou feridos. As autoridades diziam que se seguiu uma perseguição para encontrar os atacantes, “dois ou três homens armados” que tentaram entrar no complexo de treinos por duas entradas diferentes.

“Não podemos permitir a entrada de terroristas nas nossas instalações”, reagiu um responsável da força de segurança do aeroporto, Tahir Ali. “Quando há um incidente deste género, reagimos com força.” O responsável pela força, Azam Khan, criticou os media por terem dado demasiada importância ao incidente: “O objectivo dos atacantes foi criar o pânico e nós não devíamos estar a permitir-lhes fazer isso.”

O ataque teve com alvo, desta vez, uma base de treino usada pela Força de Segurança do Aeroporto. Imagens mostravam soldados e elementos desta força a tomar posição no canto norte do aeroporto, junto a um bairro conhecido por ser um bastião de combatentes extremistas, do lado oposto ao do ataque anterior. Os atacantes terão depois fugido para o interior deste bairro.

Depois desta acção, aumentou a especulação de que o Paquistão se preparará para lançar uma operação contra os militantes do Warizistão Norte, na fronteira do Afeganistão, onde estão vários grupos terroristas, diz o diário britânico The Guardian.

O exército tinha já lançado ataques aéreos que, segundo uma declaração oficial, mataram 15 pessoas e destruíram nove esconderijos usados por combatentes.

Os ataques ao aeroporto mostram não só que o Paquistão não consegue manter a segurança mesmo em locais vitais, como que os taliban, divididos pela oferta de negociações das autoridades paquistanesas conseguem, apesar desta divisão, continuar a ser uma ameaça. Nos últimos sete anos morreram mais de seis mil pessoas por violência ligada aos extremistas, segundo as contas da agência francesa AFP.

Eleito em 2013 com a promessa de trocar a estratégia militar por uma solução negociada, o primeiro-ministro Nawaz al-Sharif ponderará mudar de curso.

Os taliban dividiram-se no mês passado, quando uma facção defensora de negociações declarou que se separava para entrar em conversações com o Governo. Analistas dizem que muitas vezes depois de episódios que possam fazer um grupo deste género parecer enfraquecido se segue uma acção espectacular para um reafirmar de importância. Os ataques ao aeroporto terão servido também este objectivo.

Quanto às conversações, o Governo ainda não admitiu oficialmente que terminaram, mas ninguém acredita que tenham alguma possibilidade de avançar. Foi precisamente por causa destas negociações que o Governo não lançou uma operação contra o bastião dos taliban, que Washington e Cabul têm pedido repetidamente.

Mas a via militar é cada vez mais evocada: “A resposta a isto está no Exército do Paquistão”, declarou o ministro Khawaja Saad Rafique depois do primeiro ataque ao aeroporto, citado pelo Wall Street Journal.

Por outro lado, escreve o jornalista especialista em Sul da Ásia Jason Burke no Guardian, o ataque ao aeroporto dá a Sharif precisamente o motivo para ganhar apoio público para uma campanha no Warizistão Norte – que será provavelmente controversa e sangrenta.

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