Banca portuguesa fica com fábrica da Pescanova em Mira

A CGD, o BES e BPI são os três maiores credores portugueses da empresa galega, com uma exposição perto de 300 milhões de euros.

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A fábrica da Acuinova é descrita no site da Pescanova Portugal como “a maior unidade do mundo para a criação de pregado em aquicultura” Adriano Miranda

Segundo o diário espanhol, o acordo terá sido alcançado no âmbito do processo de recuperação da empresa, que foi aprovado no início de Maio (depois de a Pescanova ter formalizado em Abril o pedido de protecção de credores) e no qual os principais credores aprovaram o perdão de cerca de 60% da dívida, da qual ainda restam 1000 milhões de euros.

O El Mundo não revela qual dos grandes credores portugueses da empresa espanhola - CGD, BES e BPI – terá ficado com a fábrica da Acuinova, destinada à produção de pregado. No conjunto, a exposição dos três bancos ao grupo galego rondará os 300 milhões de euros, de acordo com números já publicados na imprensa espanhola.

Como o PÚBLICO noticiou, em Maio do ano passado, a dívida do grupo à CGD ascendia a 120 milhões de euros (concedidos essencialmente pela subsidiária espanhola da CGD, o Banco Caixa Geral). Nem o BES, nem o BPI divulgaram os montantes em dívida, mas ambos reconheceram em 2013 ter feito provisões relacionadas com créditos da Pescanova (de 35 milhões de euros, no caso do BPI).

Além dos activos portugueses, a empresa galega teve também de abrir mão das unidades do Chile – onde a sua subsidiária está em processo de insolvência – e enfrenta agora um complexo processo de reestruturação interna, escreve o El Mundo.

O plano de recuperação aprovado no mês passado por mais de 70% dos credores prevê que os principais, como os bancos Sabadell, Popular e CaixaBank, passem a ser os accionistas maioritários da Pescanova, que lhes deve cerca de 600 milhões de euros, segundo noticiou no início de Maio o jornal Cinco Dias.

A fábrica da Acuinova, que no site da Pescanova Portugal é descrita como “a maior unidade do mundo para a criação de pregado em aquicultura”, com capacidade de produzir cerca de sete mil toneladas por ano e tendo representado um investimento inicial de 140 milhões de euros, nunca foi consensual. Quando foi anunciado o investimento, no Governo de José Sócrates, chegou a apontar-se para a criação de 300 empregos, mas o número ficou-se por cerca de metade.

Já em Janeiro de 2013, pouco antes de se terem tornado evidentes as irregularidades nas contas e a situação de pré-falência da empresa, a unidade fabril portuguesa era dada como estando numa lista de activos não estratégicos, considerando-se que desde a sua inauguração, em 2009, só representou prejuízo para o grupo. Muitas das irregularidades contabilísticas detectadas destinaram-se mesmo a mascarar os resultados negativos do negócio de aquicultura, que em Portugal terão sido de pelo menos 70 milhões de euros.

À ocultação de prejuízos somaram-se também as acusações de ilicitudes de mercado cometidas pela anterior administração da empresa, que era liderada por Manuel Fernández, o herdeiro do grupo galego, que reduziu para metade, e com lucro, a sua posição accionista na empresa antes de a situação financeira se ter tornado pública e de a Pescanova ter começado a perder valor de mercado.

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