Obama afasta militarismo e apela a uma "acção colectiva" no mundo

Presidente dos EUA vai pedir cinco mil milhões de dólares ao Congresso para financiar luta contra o terrorismo em países do Médio Oriente e de África.

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"Não devemos fazer mais inimigos do que aqueles que retiramos do campo de batalha" Kevin Lamarque/Reuters

Num discurso que foi mais um resumo do que tem dito sempre que enfrenta um novo desafio fora de portas do que uma novidade totalmente inesperada, Obama disse que os EUA só têm a ganhar se abordarem as crises internacionais em conjunto com os seus aliados, afastando-se da política de intervenção unilateral – ou de alianças limitadas – que marcou o período que se seguiu aos atentados terroristas de 2001 contra o World Trade Center e o Pentágono.

A frase-chave, que ficará para a história das relações internacionais, resume a ideia de força e diálogo que o Presidente norte-americano quis transmitir na mesma mensagem: "O facto de termos o melhor martelo não significa que qualquer problema seja um prego."

Barack Obama não escondeu que este discurso, estrategicamente proferido na Academia Militar dos Estados Unidos, em West Point, deve ser entendido como uma resposta aos seus críticos internos, que o têm acusado de deixar fugir a preponderância norte-americana no mundo ao não usar o poder militar do país em cenários como a guerra na Síria ou o programa nuclear iraniano.

Todas essas críticas, disse o Presidente dos EUA, "resultam de uma interpretação errada a História, ou estão comprometidas com políticas partidárias".

Para Barack Obama, "a América raramente esteve tão forte em relação ao resto do mundo". "O nosso poder militar não tem rival. As probabilidades de um país nos ameaçar directamente são muito baixas, e não se aproximam dos perigos que enfrentámos na Guerra Fria", disse.

Financiar luta contra o terrorismo
Partindo do princípio de que o território norte-americano está hoje mais a salvo de um ataque do que em épocas passadas, a estratégia norte-americana deve assentar, de acordo com a Administração Obama, numa política de alianças – com os aliados históricos dos EUA, mas também com os países que sofrem na pele a acção de grupos incluídos na lista de organizações terroristas.

Neste sentido, o Presidente anunciou que vai pedir ao Congresso a criação de um fundo de cinco mil milhões de dólares (3600 milhões de euros) para combater o terrorismo em parceria com países do Médio Oriente e em África, onde "a maior ameaça já não é uma liderança centralizada da Al-Qaeda".

"Em vez disso", indicou, "são os grupos de extremistas descentralizados e com ligações à Al-Qaeda, muitos deles com agendas focadas nos países em que operam".

Em face das "mudanças rápidas" a que o mundo assiste – que apresentam "oportunidades, mas também novos perigos" –, Obama dirigiu-se aos mais de mil cadetes de West Point: "A vossa geração vai ter a tarefa de dar uma resposta a este novo mundo. A questão que enfrentamos – a questão que vocês vão enfrentar – não é se a América vai liderar, mas de que forma vamos liderar, não apenas para garantir a nossa paz e prosperidade, mas também para estender a paz e a prosperidade em todo o globo."

A ideia que dá forma à nova atitude dos EUA no mundo tenta conciliar o que muitas vezes parece ser inconciliável, e que tem originado as críticas à forma como Barack Obama intervém nas crises internacionais. Por um lado, critica os "auto-intitulados realistas", que se opõem à intervenção em qualquer conflito; por outro, ataca os "intervencionistas na esquerda e na direita", que defendem "a aplicação da força em todo o mundo como a melhor garantia contra o caos".

Sem nunca pôr de lado uma intervenção unilateral se os interesses norte-americanos forem postos em causa directamente, Obama disse que a nova presença dos EUA no mundo deve "passar um teste simples": "Não devemos fazer mais inimigos do que aqueles que retiramos do campo de batalha."

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