Há qualquer coisa de libertador em ver Catherine Deneuve, talvez a mais icónica das grandes actrizes do cinema francês pós-Nouvelle Vague, assumir os seus 70 anos sem problemas e recordar-nos que, por trás da sua beleza, existe uma senhora actriz que até gosta de correr riscos.
Ela Está de Partida, que Emmanuelle Bercot escreveu propositadamente a pensar na actriz, joga abertamente com esse passado icónico, colocando-a no papel de uma ex-Miss Bretanha que nunca abandonou o seu cantinho regional e parte sem pré-aviso numa road trip sem destino quando a vida parece fazer questão de a empurrar para a sarjeta. O que de melhor o filme tem é essa celebração da experiência e da idade, a ideia de que a vida não acaba quando se envelhece e que mesmo quando parece não haver mais nada a esperar pode-se sempre começar de novo. Mas há também a sensação de que, uma vez na estrada com Deneuve, Bercot não sabe muito bem o que fazer, e mesmo se a tensão de colocar a vedeta a contracenar com actores não-profissionais em momentos semi-improvisados cria alguns momentos fora do vulgar, Ela Está de Partida passa demasiado tempo num “pára-arranca” antes de finalmente se resolver numa história de famílias desavindas mais banal do que seria desejável. Deneuve, no entanto, está imperial, e é sempre bom vê-la assim.