Contas de Sarkozy e tombo nas europeias forçam lider da direita francesa a demitir-se
A UMP deixou de ser o maior partido da oposição e foi confirmada a emissão, a seu pedido, de 10 milhões de euros em facturas falsas da campanha falhada para a reeleição de Nicolas Sarkozy em 2012.
Uma reunião da direcção do partido marcada para discutir os resultados das eleições europeias — que fizeram com que a UMP perdesse o título de líder da oposição ao Governo socialista para a Frente Nacional de Marine Le Pen — transformou-se num braço-ferro entre Copé, de um lado, e François Fillon, Alain Juppé e Jean-Pierre Raffarin, três ex-primeiros-ministros, que exigiam a demissão do líder, relata o jornal Le Figaro, próximo da UMP.
“Não podes continuar presidente, é uma questão de sobrevivência para o nosso partido”, lançou-lhe o ex-ministro Xavier Bertrand, no relato feito pelo Libération. “Tens a responsabilidade de evitar à tua família política a prova de ter uma direcção paralisada por uma investigação judicial”, declarou o seu principal rival, François Fillon.
Copé acabou por aceitar sair a 15 de Junho e deixar o partido nas mãos de uma direcção colegial, de Fillon, Juppé e Raffarin, até à realização de um congresso, em Outubro, no qual não se recandidatará.
Por causa do caso Bymaglion, iniciado em Fevereiro, a guerra fratricida tinha regressado ao maior partido de centro direita. Os barões prepararam-se para ajustar contas com Copé após as europeias, prevendo o desastre eleitoral.
O que de facto desencadeou a queda de Jean-François Copé foi a confirmação, na segunda-feira à noite, por Jérôme Lavrilleux, seu chefe de gabinete e ex-director-adjunto da campanha para a reeleição de Nicolas Sarkozy em 2012, de que foram apresentadas facturas falsas à UMP para cobrir despesas em excesso no valor de 10 milhões de euros.
Lágrimas de animal político
Literalmente em lágrimas na televisão, quando é conhecido por ser “um animal político de sangue frio”, como diz o Libération, Jérôme Lavrilleux reconheceu que “houve derrapagens no número de eventos organizados” na campanha de Sarkozy. “Em vez de uma dezenas de comícios modestos e dois ou três grandes, como estava previsto, houve 44 ou 45 grandes comícios”, afirmou. “É muito difícil fazer uma campanha só com 22 milhões de euros”, o valor limite para as campanhas. “Era preciso facturá-las à UMP.”
Estas facturas foram pedidas à Bygmalion, empresa de comunicação de Bastien Millot e Guy Alves, dois amigos de Jean-François Copé. O caso foi avançado pela revista Le Point. Soube-se que a empresa está a ser investigada e Copé sob suspeita de lhe atribuir contratos de forma preferencial. Copé diz que tudo se passou nas suas costas, sem o seu conhecimento.
Com a confissão de Lavrilleux — que ganhou imunidade por ter sido eleito eurodeputado —, confirmava-se o que o advogado da Bygmalion, Patrick Maisonneuve, tinha dito umas horas antes: que a empresa tinha emitido facturas falsas obrigada pela UMP, e também “falsas facturas verdadeiras”. Estas referiam-se aos comícios de Sarkozy, mas foram cobradas como se fossem gastos relativos a 70 congressos e encontros políticos sobre temas como a fiscalidade ou o terrorismo, promovidos pela UMP. Mas muitos destes eventos, pagos a preço de ouro, nunca se realizaram revelou o jornal Libération já este mês.
Enquanto a polícia fez buscas nos escritórios da Bymaglion, na UMP e na Génération France, uma associação política liderada por Copé, Maisonneuve afirmou que as facturas falsas foram exigência da UMP. “Ou fazíamos isto ou não seríamos pagos”, declarou, dizendo que a empresa foi alvo de “chantagem económica”.
Mas, nada subtilmente, o advogado fez com que as suspeitas se virassem de novo sobre o ex-Presidente, visado já por vários processos: “O caso Bygmalion é o caso das contas da campanha de Sarkozy.”
Na busca da reeleição, o ex-Presidente ultrapassou em 466.118 euros o tecto de gastos autorizados – 22.509.000 euros para os candidatos que passaram à segunda volta. As contas de campanha foram chumbadas pelo Conselho Constitucional e a UMP não foi reembolsada em metade das suas despesas, como teria direito se fossem aprovadas, o que deixou o partido num aperto financeiro.
Philippe Briand, ex-tesoureiro da campanha de Sarkozy, contestou a versão do advogado da Bygmalion, num comunicado em que assegura “jamais ter pedido que fossem imputadas despesas à UMP”.
Enquanto o Partido Socialista, no Governo, beneficia de uns momentos de trégua para pensar o que fazer com os 13,98% que teve nas eleições europeias, surgem vozes a apelar à reformulação radical do centro-direita. Se a UMP parece estar a desfazer-se, então é melhor enterrar de vez este projecto, que nasceu em 2002 como uma plataforma para a reeleição de Jacques Chirac à presidência da República, reunindo vários partidos de centro direita. UMP significava originalmente União para a Maioria Presidencial; mais tarde foi mudado para União para um Movimento Popular.
Além de vários populares defenderem essa ideia no Le Figaro, jornal ligado à UMP, o filósofo e escritor Yves Roucaute articula essa ideia no Le Monde. Diz não ver motivos para que continue a existir esta “estrutura piramidal, opaca e de natureza bonapartista”, que “interdita a gestão transparente e a democracia participativa interna” .