Rapazes sofrem mais com insultos homofóbicos do que raparigas
Estudo envolveu alunos entre os 12 e os 14 anos e as conclusões apontam para uma maior discriminação entre rapazes no que respeita a insultos homofóbicos.
O artigo, intitulado (In)visibilidade do Bullying Homofóbico no Contexto Escolar Português, está incluído numa investigação que decorreu ao longo de três anos lectivos, entre 2010/2011 e 2012/2013, numa escola pública de Braga. Apesar de ter sido recentemente apresentado, o artigo ainda vai ser publicado este ano numa revista científica, à semelhança dos outros artigos que fazem parte deste estudo.
Foi especificamente o bullying homofóbico, que inclui insultos com nomes ou frases de carácter sexual como “maricas, gay, bicha, florzinha, maria-macho, fufa, lésbica”, entre outros, aquele que registou as maiores diferenças entre rapazes e raparigas. Entre os rapazes, 3,8% do 7.º ano foram vítimas deste comportamento; 6,2% no 8.º e 11,5% no 9.º. Entre as raparigas, as percentagens são mais baixas e nunca ultrapassam os 2,6%, neste caso, no 9.º ano, e sendo abaixo dos 1,2% no 7.º e 8.º anos.
Em comum, neste ponto específico, surge o facto de as percentagens aumentarem de valor de ano para ano, o que leva o investigador principal, Paulo Costa, do Instituto de Educação da Universidade do Minho, a perguntar: “O que se passa nas escolas?”. E temer “o que se passará no secundário”.
Para além disso, os investigadores mostram-se preocupados com a discriminação de que são alvo os rapazes: “É um dado muito preocupante, que mostra que a área da educação sexual e para os afectos tem de ser uma realidade nas escolas. Estes temas têm de ser debatidos, estes comportamentos não podem ser tolerados, tem de se respeitar a diferença”, defende Paulo Costa, sublinhando que o bullying é um fenómeno “invisível” e que, muitas vezes, os miúdos têm dificuldade em pedir “ajuda” em casa. “Até se acham merecedores daqueles comportamentos”, alerta o investigador, frisando que os adolescentes e pré-adolescentes também imitam os comportamentos que existem na sociedade. “Às vezes são os próprios adultos a reforçar estes comportamentos. É preciso ter muito cuidado”, alerta.
Prevenir o fenómeno
Sem descurar que os estereótipos sobre as meninas também pesam quando o assunto é discriminação, Paulo Costa entende que as ideias sobre masculinidade e virilidade afectam “bastante” os rapazes: “Quem não se enquadra, sofre bastante”, diz, adiantando que o estudo incluiu sessões em que os alunos foram motivados a “intervir” e a tornarem-se “elementos pró-activos” na prevenção do fenómeno.
Os investigadores que participaram neste estudo, que começou por ser divulgado pela agência Lusa, entendem que a prevenção passa por “uma intervenção multidisciplinar que envolva toda a comunidade escolar” e que a diversidade sexual e familiar deve ser uma prioridade nos currículos, para além de se apostar em políticas escolares anti-bullying e anti-discriminação que tenham as crianças e jovens “como parceiros”.
No que toca ao bullying sexual, no qual se inclui o bullying homofóbico, os dados mostram que 5,4% das meninas de 12 anos (do 7.º ano) foram vítimas deste tipo de comportamentos, aumentando o número de casos para 6,2% no 8.º e para 11,6% no 9.º ano. O bullying sexual incluiu terem sido tocadas em partes íntimas, o que as deixou tristes e desconfortáveis, terem sido alvo de gestos obscenos que as magoaram, e ainda insultadas com nomes ou frases de carácter sexual. As mesmas atitudes não apresentam, segundo os autores do estudo, diferenças significativas nos rapazes: 8,9% no 7.º ano; 12,5% no 8.º; e 16,7% no 9.º.
Tanto rapazes como raparigas são vítimas
Os dados desta investigação, liderada pelo Instituto de Educação da Universidade do Minho, mostram ainda que, no que respeita ao bullying globalmente considerado, cerca de um terço dos meninos de 12 anos já foram vítimas de algum comportamento, número que aumenta para 45% entre os rapazes de 13 anos e que é de 39,7% entre os que têm 14. O bullying globalmente considerado inclui agressões físicas, verbais, ameaças, cyberbullying – através de mensagens na Internet e nas redes sociais - e também o sexual. Nas raparigas, os dados não apresentam grandes diferenças: 30,4% no 7.º ano; 38,8% no 8.º; e 24,4% no 9.º.
“Não há diferenças estatisticamente significativas entre rapazes e raparigas no bullying globalmente considerado, embora os números sejam ligeiramente inferiores entre as vítimas do sexo feminino. Mas tanto rapazes como raparigas sofrem com este fenómeno”, afirma o investigador Paulo Costa, autor deste estudo cuja amostra abrangeu, durante três anos lectivos consecutivos, entre 2010 e 2013, uma média de 162 alunos inquiridos por ano, entre os 12 e os 14, numa escola de Braga, dos quais 52% eram raparigas e 48% rapazes.