Esperar que um povo de bandidos eleja políticos sérios é tão idiota quanto querer fazer uma boa laranjada com laranjas podres. É por isso que eu não compreendo porque é que os portugueses se queixam dos políticos que elegem há 40 anos.
É verdade que Portugal não é um país de bandidos. Nem de laranjas podres. Mas também não me venham cá com histórias. Neste país não mora (e nem sei se algum vez morou) um nobre povo. E o Zé povinho só não é mais trafulha e estouvado porque não pode.
É fácil imaginar o mecânico que não passa facturas a aceitar subornos se fosse ministro. Ou a esteticista que fez férias na neve 5 anos seguidos (mas que agora se queixa que a vida está difícil), a construir estádios, rotundas ou a contratar o Abrunhosa para a festa da autarquia. Já para não falar daquele taxista que me tenta levar 40 euros do aeroporto até ao Marquês quando lhe falo em inglês. A esse, imagino-o a aldrabar as contas públicas com receitas “extraordinárias”.
Portugal tem um pobre povo de porreiros. Praticantes do desenrascanço e filhos da Chica Espertice Laxista. Mas exigem ser representados por nobres e cavalheiros messias enviados do espírito santo.
A verdade é que os políticos portugueses e o povo português são iguaizinhos. Tudo tinta da mesma paleta. É por isso que os primeiros representam sublimemente os segundos. E os segundos merecem bem os primeiros. Ou não fosse isto uma democracia.
O político que promete e não cumpre, é cara chapada daquele médico que nunca começa a consulta à hora marcada. Mas a culpa não é dele. É sempre do paciente anterior. Eu acho que já ouvi esta desculpa em qualquer lado...
O ministro vassalo que adora agradar a estrangeiros, é tirado a papel químico do português que se excita quando um jornal ou revista internacionais dizem que Lisboa tem as melhores esplanadas do mundo. Não é que a validação externa seja importante para eles. Mas massagem no ego vai sempre bem. Principalmente quando este é minúsculo.
Também tenho a certeza que a secretária que leva o economato da empresa para casa e a executiva que factura jantares com a família aos clientes, são muito parecidas com a ministra que usa dinheiros públicos para despesas pessoais. Ambas acham que são coisas insignificantes. E que por isso ninguém repara. E aquele empresário que paga parte dos salários com facturas em almoços para não pagar Segurança Social e ainda deduzir o IVA? É tal e qual o autarca que cria empresas municipais para esconder dívida ou o ministro que arranja um fundo de pensões para mascarar o défice do ano. São todos gestores criativos. Ou, em bom português, “dão um jeitinho”.
Se calhar estou a exagerar. São só exemplos pequeninos. E se calhar não contam. Porque em Portugal há muita coisa que não conta. Só conta o que dá jeito contar neste país do faz de conta. E se calhar até estou a generalizar. Porque o povo não é nada assim. Claro que não! Neste país nem é preciso sortear automóveis para civilizar contribuintes...
Em 40 anos de democracia, Portugal ia falindo 3 vezes. Os portugueses acham que a culpa é dos políticos. Eu não acho. Porque sei que quem mora num bairro de barracas não pode esperar uma administração do condomínio da Quinta da Marinha.