Casa Branca pede “calma” ao Vietname após “provocação” da China
Pretensões territoriais da China incomodam cada vez mais países
Os apelos da Casa Branca serão certamente bem-vindos numa região onde as pretensões territoriais da China incomodam cada vez mais países, mas não deixam de saber a pouco. “Nós temos pressionado os Estados Unidos para mudarem a sua política e tomarem partido”, diz à Reuters um responsável do Ministério da Defesa filipino. “Quero ver os EUA a igualar com acções as palavras ditas pelo Presidente Obama na sua visita recente às Filipinas.”
Pequim reivindica de forma cada vez mais activa territórios do mar do Sul da China que abrangem zonas em disputa – que vários outros, para além do Vietname e das Filipinas, o Japão, o Brunei e Taiwan, consideram suas. Há estudos que indicam a existência de grandes reservas de petróleo e gás natural na área.
Não são ainda certas a dimensão dos estragos nem o número de vítimas provocados pelos protestos e ataques a fábricas concentrados nos parques industriais perto de Ho Chi Minh, a maior cidade do Vietname. Pequim fala em dois mortos, o médico de um hospital disse à Reuters ter visto 21 corpos e recebido pelo menos 100 feridos. Os protestos diminuíram, mas na sexta-feira ainda continuavam.
O chefe da Segurança Pública da China exigiu este sábado ao Vietname que tome medidas para travar a violência anti-China e punir os atacantes. “O Governo vietnamita tem de ser responsabilizado pelos ataques violentos contra as empresas e os trabalhadores da China”, disse Guo Shengkun ao telefone com o seu homólogo, Tran Dai Quang, cita a agência oficial Xinhua. Tran assegurou a Guo que Hanói já mobilizou um enorme dispositivo policial e deteve inúmeros suspeitos.
Memórias e passado
Até este mês, escreve a revista Economist, as relações entre o Vietname e a China pareciam só poder melhorar, com cada vez mais negócios a serem assinados e o comércio a florescer.
O Vietname, com uma longa história de ocupação e resistência aos grandes poderes mundiais, tem um passado complexo com os chineses, que já foram aliados e agressores. Em 1979, os dois vizinhos comunistas quebraram laços pela última vez, numa curta mas sangrenta guerra fronteiriça.
O regime vietnamita reagiu com indignação ao avanço chinês para a construção da plataforma petrolífera, acompanhado pelo envio de vários navios. Facto raro, permitiu manifestações em Hanói e deixou que estas fossem cobertas por jornalistas. Críticos conhecidos do Governo juntaram-se, agitaram bandeiras e gritaram slogans nacionalistas.
Depois, vieram os ataques violentos e a reacção foi ambivalente: num texto enviado aos cidadãos, o primeiro-ministro, Nguyen Tan Dung, “pediu a cada vietnamita para dar mostras do seu patriotismo”, defendendo em simultâneo “que não pode ser permitido aos maus elementos instigarem acções extremistas que prejudiquem os interesses e a imagem do país”.
As tensões deverão continuar entre os dois países, enquanto da Ásia vão repetir-se apelos aos EUA. A Casa Branca não tem nenhum tratado que a obrigue a defender o Vietname, mas tem essa obrigação com outros aliados na região, como as Filipinas. E em Washington já há analistas a defenderem “o aumento de uma presença naval em, apoio ao Vietname. Para Elizabeth Economy e Michael Levi, do think tank Council on Foreign Affairs, “isso daria aos EUA a capacidade de avaliar as capacidades chineses e de ajudar a travar a escalada na situação”.