Kerry dá força às acusações de ataques com cloro na Síria

Grupo dos "Amigos da Síria" promete mais apoio à rebelião e denuncia eleições presidenciais como "uma farsa e um insulto".

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Os rebeldes anunciaram ter detonado “60 toneladas” de explosivos colocados num túnel Khalil Ashawi/Reuters

“Vi dados em bruto que sugerem que poderá ter havido, tal como a França sugeriu, um número de situações em que foi usado cloro no decorrer da guerra”, disse o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, no final da reunião em Londres.

Segunda-feira, o ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Laurent Fabius, acusou o Exército sírio de ter lançado bombas com cloro em 14 ocasiões diferentes desde Outubro, reforçando uma suspeita que já tinha sido lançada pela Human Rights Watch e que levou os inspectores internacionais a abrir um inquérito. Suspeitas que se fundam no relato de testemunhas que dizem ter visto bombas que, ao explodirem, lançaram no ar um gás esverdeado (a cor do cloro no seu estado puro) e de médicos que falam em vítimas com sinais de asfixia por agentes químicos.

Kerry insistiu, por mais do que uma vez, que se trata de “dados não confirmados”, mas sublinhou que a verificar-se a veracidade das suspeitas isso representaria uma violação da Convenção para a Proibição das Armas Químicas, a que a Síria aderiu no Verão, acatando um plano negociado entre os EUA e a Rússia para a eliminação do seu arsenal – das mil toneladas de químicos que então declarou, 90% foram entretanto retirados do país. A Convenção não proíbe a produção ou o armazenamento de cloro, usado pela primeira vez como agente asfixiante durante a I Guerra Mundial, mas interdita a sua utilização no contexto de guerra.

Na declaração final da reunião em Londres, os chefes da diplomacia dos 11 prometeram “adoptar novos passos para, através de uma estratégia coordenada, redobrar o apoio à oposição moderada” e Kerry anunciou que os EUA estão a ponderar enviar ajuda para as zonas controladas pelos rebeldes através de organizações – as Nações Unidas têm sido várias vezes acusadas de lentidão na resposta –, mas recusou comentar se em cima da mesa está o envio de armas para a oposição.

Da reunião saiu ainda a condenação das eleições que o Presidente Bashar al-Assad convocou para se reeleger – a gota de água que levou à demissão de Lakhdar Brahimi do cargo enviado especial da ONU para a Síria. “Estas eleições são uma farsa, um insulto e uma impostura”, disse Kerry. O comunicado conjunto lamentou que o regime sírio se entregue a uma “paródia de democracia” que “faz pouco das vítimas inocentes do conflito.

Enquanto em Londres se falou da guerra, a guerra continuou a matar na Síria. Pouco depois do início da reunião dos chefes da diplomacia, o Observatório Sírio dos Direitos Humanos dava conta da morte de 29 pessoas na explosão de um carro armadilhado na fronteira entre o Norte da Síria e a Turquia. Entre as vítimas, aparentemente todos civis, há pelo menos cinco mulheres e três crianças. Fotografias e vídeos postos a circular na Internet mostram carros a arder, corpos calcinados e feridos entre bagagens abandonadas.

O ataque ocorreu na zona do posto fronteiriço de Bal al-Salam, em poder de grupos islamistas que, desde Janeiro, combatem na região os jihadistas do Exército Islâmico do Iraque do Levante (ISIS). Nos últimos meses, o grupo, que conta com muitos combatentes estrangeiros, reivindicou vários atentados contra postos fronteiriços, mas nenhum tão sangrento como o desta quinta-feira.

Mais a sul, os rebeldes anunciaram ter detonado “60 toneladas” de explosivos colocados num túnel escavado sob a base militar de Wadi al-Deif, ponto estratégico na auto-estrada que liga Damasco a Alepo. Num vídeo colocado online, é visível um enorme cogumelo de terra a elevar-se da base, que os rebeldes cercam há dois anos sem nunca terem conseguido conquistar, desconhecendo-se quantas vítimas terá provocado o ataque.

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