Museu do Brinquedo em Sintra fecha em Agosto por falta de verbas

Fundação que gere o museu deixou de ser apoiada pela autarquia, devido à nova lei das fundações, e as receitas de bilheteira não chegam para manter as portas abertas.

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Os mais de 60 mil brinquedos que constituem o espólio do museu vão ficar encaixotados à espera de uma solução DR

"A nova Lei das Fundações foi cega e o pouco apoio que o Museu do Brinquedo recebia foi cortado", disse à Lusa João Arbués Moreira, filho do criador da Fundação Arbués Moreira, que desde 1989 expõe "uma das maiores colecções de brinquedos do mundo" em Sintra. Já no ano passado, a directora do museu admitia que o espaço poderia ter de fechar no final do ano.

O museu, na vila há 26 anos, "vive muito da bilheteira", afirmou João Arbués Moreira, acrescentando que no último ano "as receitas caíram 20%". Entre Janeiro e Abril deste ano, o museu registou cerca de 7000 visitantes, contra 8200 no mesmo período de 2013. A quebra nas visitas atingiu as famílias, mas também as escolas, que deixaram de ter apoio para fretar autocarros para transportar as crianças.

Os mais de 60 mil brinquedos que integram o espólio do museu, quase todos da colecção pessoal de João Arbués Moreira, estão expostos há 17 anos no antigo quartel dos bombeiros no centro histórico da vila de Sintra, recuperado pelo arquitecto Aires Mateus expressamente para o efeito. A câmara cedia o espaço gratuitamente e ainda apoiava a Fundação, que gere o equipamento, com um subsídio mensal de cinco mil euros.

Face à "presente conjuntura nacional, aliada ao abandono por parte do Estado de apoios à cultura, e de Sintra", o museu "não tem a possibilidade de manter a sustentabilidade financeira da sua actividade museológica para além do mês de Agosto", anunciou nesta quinta-feira a fundação. "Não se alterando esta situação, o Museu do Brinquedo de Sintra encerrará no dia 31 de Agosto de 2014", acrescenta o comunicado.

João Arbués Moreira confessou ser uma decisão difícil de tomar, mas justifica-a com a necessidade de não acumular prejuízos. Em causa estão sete postos de trabalho, que representam um encargo anual de 120 mil euros.

A nova Lei-Quadro das Fundações, aprovada em 2012, impediu a Câmara de Sintra de manter os apoios desde o final do ano passado. Caso contrário, a autarquia perderia 10% da verba que o Governo transfere para os municípios.

Câmara de Sintra de mãos atadas

A fundação recusou a primeira proposta de novo protocolo com a câmara, devido à exigência de devolução do edifício como tinha sido entregue, e aguarda por uma nova reunião ainda este mês para conhecer a posição da autarquia. "A Câmara legalmente não pode apoiar fundações. O que fizemos foi comprar entradas para as nossas escolas. Se o museu não tem viabilidade económica não podemos fazer nada", disse à Lusa o presidente da autarquia, Basílio Horta (PS).

O autarca não ficou "totalmente surpreendido" com o anúncio de fecho do museu e notou que a câmara cede o edifício "por uma renda simbólica". Basílio Horta mostrou-se disponível para analisar a situação com a fundação, mas reiterou que o município não pode prestar outro tipo de apoio, "porque a fundação é uma entidade privada".

Arbués Moreira adiantou que existe "abertura" por parte da Câmara de Lisboa para ter o museu na capital. "Mas não temos mais desenvolvimentos", afirmou, reconhecendo que em cidades como a capital ou no Porto será mais fácil atrair visitantes. Em municípios da periferia haverá sempre a necessidade de apoio para assegurar a sustentabilidade do museu.

O museu, que já foi visitado por 900.000 pessoas, firmou em Fevereiro um protocolo com a Fundação Montepio, mas o apoio financeiro em troca de condições especiais de acesso para associados da instituição mutualista revelou-se insuficiente.

A colecção do Museu do Brinquedo resulta da recolha feita ao longo de mais de 60 anos por João Arbués Moreira, que começou a juntar brinquedos oferecidos e herdados aos 14 anos e com o passar do tempo foi adquirindo outros. As peças mais antigas são dois berlindes, com mais de 2000 anos, encontrados na Síria, nas margens do rio Eufrates. Em 1987, foi criada a Fundação Arbués Moreira, à qual foi legada toda a colecção.