Acidentes e VIH no topo das causas de morte de 1,3 milhões de adolescentes
Relatório da OMS analisou causas de morte em 2012. Mortalidade caiu 12% desde 2000, um número que é considerado "modesto".
O relatório "Saúde para os adolescentes do mundo" é publicado nesta quarta-feira pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que estima que uma em cada cinco pessoas no mundo seja adolescente, ou seja, há 1,2 mil milhões de pessoas de entre 10 e 19 anos.
Embora a maioria dos adolescentes seja saudável, a OMS alerta que ainda há números significativos de mortes e doenças naquela faixa etária. Só em 2012, revela a organização, morreram 1,3 milhões de adolescentes em todo o mundo, menos do que os 1,5 milhões de 2000.
A taxa de mortalidade naquela faixa etária caiu de 126 para 111 em cada 100.000 entre 2000 e 2012, uma "queda modesta" de 12% que continua a tendência dos últimos 50 anos, conclui a OMS. No relatório, a OMS revela que os acidentes rodoviários são a principal causa de morte a nível global, assim como a segunda causa de ferimentos e deficiência. Os rapazes são particularmente afectados pelos acidentes na estrada, com uma taxa de mortalidade três vezes mais elevada do que as raparigas.
O VIH, que não aparecia entre as causas de mortes adolescentes em 2000, tornou-se agora a segunda mais frequente. A OMS estima que a mortalidade adolescente associada a esta doença esteja mesmo a aumentar nesta faixa etária, ao contrário do que acontece em todas as outras. Isto pode reflectir as melhorias nos cuidados de saúde junto das crianças seropositivas, o que faria aumentar aquelas que chegam vivas à adolescência, admite a OMS. No entanto, nesta faixa etária os doentes não estão a receber o tratamento e os cuidados necessários para sobreviver e evitar a transmissão.
Doenças mentais com grande peso
No relatório, a OMS destaca ainda o "peso elevado" das doenças mentais na saúde dos adolescentes. Globalmente, escreve a organização, a depressão é a principal causa de doença e deficiência nesta faixa etária e o suicídio é a terceira causa de morte. "Alguns estudos mostram que metade das pessoas que desenvolvem problemas mentais tem os primeiros sintomas até aos 14 anos. Se os adolescentes com problemas mentais receberem os cuidados de que precisam, isso pode prevenir mortes e evitar o sofrimento ao longo da vida", concluem os autores do relatório.
A OMS destaca também uma "redução significativa" das mortes por complicações na gravidez e parto entre as adolescentes desde 2002, particularmente nas regiões onde a taxa de mortalidade materna é mais alta: Sudeste asiático (57%), Mediterrâneo Oriental (50%) e África (37%). Apesar disso, a mortalidade materna ainda é a segunda causa de morte entre as raparigas dos 15 aos 19 a nível global, apenas ultrapassada pelo suicídio.
Novos dados recolhidos pela OMS sobre a saúde dos adolescentes concluem que menos de um em cada quatro faz exercício suficiente – a organização recomenda pelo menos uma hora de exercício moderado a vigoroso por dia, e em alguns países um em cada três é obeso. Por outro lado, há algumas tendências positivas, como a redução das taxas de tabagismo nos adolescentes mais jovens em países de alto rendimento e em alguns de baixo e médio rendimento.
A OMS recorda que a adolescência é um período importante para criar as fundações de uma vida saudável, recordando que muitos dos comportamentos que propiciam as principais doenças não transmissíveis começam ou reforçam-se nesta altura. "Se não forem abordados, os problemas de saúde e comportamentos que começam na adolescência - como o consumo de tabaco e álcool, os padrões alimentares e de exercício - têm um sério impacto na saúde e desenvolvimento dos adolescentes de hoje e potencialmente efeitos devastadores na sua saúde como adultos amanhã", diz a principal autora do relatório, Jane Ferguson.
O relatório sublinha por isso a necessidade de mais países seguirem o exemplo de Estados como a Índia, cuja estratégia para a saúde dos adolescentes aborda um vasto espectro de questões, como a saúde mental, a nutrição, o consumo de substâncias, a violência, as doenças não transmissíveis e a saúde sexual e reprodutiva.