Directora do Le Monde demite-se em confronto com a redacção

Natalie Nougayrède é acusada de "não ouvir ninguém" e de assumir uma postura "autoritária". Na hora da saída, acusa "alguns elementos" do jornal francês de a terem empurrado para obterem ganhos pessoais.

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Natalie Nougayrède esteve no cargo pouco mais de um ano MIGUEL MEDINA/AFP

A causa directa da demissão é a guerra interna provocada pelo plano de reforço da versão digital, apresentado em Fevereiro. Uma parte da redacção acusava a directora de "não ouvir ninguém", assumindo uma postura "autoritária", escreve a agência AFP. Natalie Nougayrède acusa os seus detractores de terem provocado a sua demissão por estarem "acomodados" nos seus postos de trabalho e por quererem retirar benefícios pessoais.

"A vontade de alguns membros do Le Monde de reduzirem drasticamente as prerrogativas do director do jornal é, para mim, incompatível com o cumprimento da minha missão", escreveu Natalie Nougayrède num comunicado enviado à redacção.

"Por outro lado, os ataques directos e pessoais à direcção e ao meu trabalho impedem-me de levar a cabo o plano de transformação que assumi perante os accionistas, e que requer um largo apoio da redacção", acrescentou.

A saída de Nougayrède fecha um ciclo infernal de uma semana, que começou na terça-feira passada, quando sete chefes de redacção e chefes de redacção adjuntos puseram os seus lugares à disposição, alegando "falta de confiança e de comunicação com a direcção". Três dias depois, os dois directores adjuntos, Vincent Giret e Michel Guerrin, apresentaram a demissão, depois de também terem sido alvo das críticas da redacção.

O plano da direcção do Le Monde previa a passagem de 57 jornalistas do papel para outros serviços do jornal, muitos deles para a edição online. Grande parte da redacção temia que essa transição fosse aproveitada para levar a cabo um despedimento colectivo, avança o site da Radio France Internationale.

Natalie Nougayrède é uma respeitada jornalista de 46 anos, distinguida em 2005 com o mais importante galardão do jornalismo francês pela sua cobertura do sequestro e massacre na escola n.º 1 de Beslan, na Ossétia do Norte. Assumiu a direcção do Le Monde em Março de 2013, após a morte de anterior director, Érik Izraelewicz, tendo na altura recolhido o apoio de 80% da redacção.

Mas o seu desempenho enquanto directora revelou-se menos consensual. Num artigo publicado no início de Maio, o site Mediapart revelou um relatório da empresa Technologia, especializada na avaliação de riscos nos locais de trabalho, em que a direcção do Le Monde é acusada de "não dar respostas claras", de revelar "significativas deficiências de gestão" e de deixar crescer na redacção "a sensação de uma liderança insuficiente num momento crucial".

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