O humorista britânico Richard Ayoade estreou-se na realização com Submarino (2010), uma irreverente história de adolescentes à procura do seu lugar no mundo; se O Duplo é também a história de alguém que procura o seu lugar no mundo, é-o numa direcção diametralmente oposta. Trata-se de uma adaptação livre, claustrofóbica e desconfortável, da novela de Dostoiévski sobre um zé-ninguém que vê a sua vida banal ser metodicamente desfeita pelo seu sósia perfeito. Ayoade constrói habilmente a sua teia sufocante, ajudado por um Jesse Eisenberg em excelente forma no duplo papel, e pela cenografia evocativamente nocturna e sombria de David Crank, a meio caminho entre o Brazil de Terry Gilliam e a Cidade Misteriosa de Alex Proyas, mas substituindo o surrealismo escarninho daqueles por uma angústia existencial asfixiante que termina num final opacamente lynchiano. Mas, algures nesse cadinho de ideias e referências, Ayoade ensimesma-se num exercício de estilo, interessante mas estéril, fugidio mas derivativo, mesmo que com qualidades indesmentíveis.
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