Os novos trintões têm medo de envelhecer

O novo trintão está em contra relógio com a vida porque não vê ao fundo a meta — que já queria ter cortado — de ser grande

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Carlo Allegri /Reuters

Os novos trintões têm medo de envelhecer. Vivem uma espécie de nostalgia de um futuro que ainda não têm. Parece-lhes tarde para tudo. Já lhes parece tarde para terem filhos, tarde para serem solteiros, tarde para ainda não serem nada profissionalmente, demasiado cedo para terem medo de envelhecer.

Trintão que é trintão nunca admite que tem medo porque está na idade de ser o mais valente dos mais novos, de querer rasgar a multidão com vitalidade e energia, de fazer tudo, quando não sabe o que quer fazer realmente, tanta é a liberdade no corpo, tão poucas são as opções que a vida lhe dá. O novo trintão está em contra relógio com a vida porque não vê ao fundo a meta — que já queria ter cortado — de ser grande.

Os novos trintões sofrem em silêncio com a agonia do futuro que nunca mais é presente. Até parece gira esta ideia da juventude se prolongar para lá do antigamente mas trintão que é trintão, nos dias de hoje, faz contas à idade que já não tem. Não, estes novos trintões não são necessariamente depressivos nem fatalistas. São só nostálgicos de um futuro que têm medo de ser curto demais, quando forem realmente adultos.

Como os novos trintões cortam a meta de serem grandes demasiado tarde, levam a vida a fazer contas de matemática aos sentimentos. A tabuada diz-lhes a idade que terão quando tiverem capacidade para serem pais, noves fora quatro dá a agonia dos anos com que vão viver a juventude dos filhos, antecipam a falta de vitalidade que vão ter para rasgar a multidão da infância que corre neles, dividem tudo e têm medo de estar a perder o tempo dos avós que lhes querem dar como sendo, garantidamente, os mais valentes dos mais velhos que há no mundo.

Os novos trintões não são só uma geração sem perspectiva com medo de emigrar pela saudade de quem deixam. Os novos trintões antecipam um futuro que ainda não têm e desenham — num silêncio cheio de equações de insegurança — a matemática do futuro, sem máquina com capacidade de calcular.

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