Almeida Faria é o escritor português convidado da Festa Literária Internacional de Paraty

O mais importante acontecimento literário brasileiro acontece este ano de 30 de Julho a 3 de Agosto.

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Almeida Faria Dario Cruz

O autor de Rumor Branco (1962), que recebeu o Prémio Revelação da Sociedade Portuguesa de Escritores, da Tetralogia Lusitana - iniciada com A Paixão (1965), seguida de Cortes (1978), Lusitânia (1980) e Cavaleiro Andante (1983) -  e mais recentemente de O Murmúrio do Mundo (2012) estará na penúltima mesa da programação principal da FLIP intitulada Os Sentidos da Paixão, ao lado do escritor chileno Jorge Edwards, Prémio Cervantes 1999.

Jorge Edwards, autor de O Inútil da Família, A Origem do Mundo, O Sonho da História, O Museu de Cera, teve entre os seus amigos, mentores e companheiros de geração Julio Cortázar, Julio Ramón Ribeyro, Mario Vargas Llosa, Pablo Neruda e Octavio Paz que chegou a prefaciar o seu livro mais conhecido, Persona non grata, de 1973, ano em que o chileno se tornou escritor a tempo inteiro e abandonou a carreira diplomática.

"Paixão, ciúme, erotismo e escrita pautam a conversa entre esses dois grandes romancistas, mestres da narrativa ibero-americana", lê-se no resumo da apresentação da conferência divulgada esta terça-feira.

O autor homenageado desta edição da Festa Literária Internacional de Paraty é Millôr Fernandes (1923-2012), que deu o tom à programação desta edição, que tem como curador o jornalista Paulo Werneck. "É um tom crítico, principalmente ao poder", explicou o novo curador durante a conferência de imprensa que esta terça-feira, ao final da manhã, decorreu no Rio de Janeiro.

É a primeira vez que a FLIP homenageia um autor contemporâneo — e que já esteve na Tenda dos Autores, onde acontecem as palestras: o mestre de humor Millôr foi um dos convidados em 2003. "Não foi por acaso que Millôr esteve entre os convidados da primeira FLIP. Em seu trabalho, podemos reconhecer princípios que nortearam a festa literária, que dissolve fronteiras e promove a integração entre as artes. E que, assim como a obra de Millôr, fala para um público abrangente, sem perder a erudição", afirmou Mauro Munhoz, director geral da FLIP e director-presidente da Associação Casa Azul, que organiza a festa literária. 

"Outra novidade é que o show de abertura vai ser aberto ao público, um presente para Paraty, com a Gal Costa” disse ainda Munhoz. A cantora leva à FLIP as canções de Recanto, o seu disco mais recente, concebido e composto por Caetano Veloso.

Entre as homenagens ao dramaturgo, editor, tradutor e artista gráfico Millôr Fernandes, que foi uma das figuras mais marcantes da imprensa brasileira e morreu aos 88 anos, a primeira actividade da Festa Literária Internacional de Paraty começa com uma conferência do crítico de arte Agnaldo Farias que destacará "o valor da obra de Millôr Fernandes para a arte brasileira".

Ainda na noite de abertura, uma mesa vai reunir três "Millormaníacos" numa conversa entre Hubert e Reinaldo, que nos anos 1980 editaram uma "cria" do Pasquim, o Planeta Diário, e o cartoonista Jaguar. No segundo dia, a FLIP reúne dois discípulos daquele a quem chamavam Guru do Méier: Cássio Loredano, que está a vasculhar e a estudar o acervo do Millôr e o jornalista Sergius Augustus.

"Arquitectura, ciência e o pensamento indígena são alguns dos eixos importantes da edição deste ano", acrescentou Paulo Werneck na conferência de imprensa onde revelou que a mesa dedicada à arquitectura recebe este ano o arquitecto Paulo Mendes da Rocha e o crítico italiano Francesco Dal Co, especialista na obra daquele que é o primeiro Prémio Pritzker brasileiro, para uma conversa sobre as afinidades entre "dois territórios singulares: Veneza e Paraty".

A ex-editora britânica Liz Calder, a presidente da FLIP, não esteve na conferência de imprensa no Rio de Janeiro mas enviou uma mensagem em vídeo onde realçou "o carácter multinacional" da edição deste ano, que inclui autores de vários continentes.

Entre os convidados do evento está o realizador Charles Ferguson e o advogado e jornalista Glenn Greenwald - que divulgou as revelações de Edward Snowden em 2013 -, que irão falar sobre liberdade. Ferguson, que transformou seu documentário Inside Job - A Verdade da Crise  em livro, "é o primeiro vencedor de um Óscar que vai à FLIP", lembrou Paulo Werneck.

Também o norte-americano Michael Pollan, autor de O Dilema do Omnívoro que lançará no Brasil a tradução do seu mais recente livro Cooked e que é conhecido pela sua cruzada contra a comida industrial e pela defesa do prazer de comer e de cozinhar, irá a Paraty para falar de cultura e história da alimentação. O físico Marcelo Gleiser, o jornalista norte-americano Andrew Solomon (para quem "criar um filho pode ser ainda mais desafiador quando a identidade dele não corresponde às nossas expectativas") e o escritor russo Vladímir Sorókin que, um dia, à pergunta por que é que a Rússia é tão interessante respondeu: “Porque aqui as fantasias mais inesperadas e estranhas às vezes se tornam realidade” são outros dos convidados.

“Um dos grandes orgulhos de nossa programação neste ano é a vinda da escritora Jhumpa Lahiri", revelou ainda Paulo Werneck. A britânica de origem indiana, autora de A Planície falará sobre sobre a literatura como mediação entre culturas. E a escritora neozelandesa Eleanor Catton que recebeu o prémio Man Booker em 2013 é outra das presenças marcantes do evento. O israelita Etgar Keret e o mexicano Juan Villoro participam numa mesa intitulada A Verdadeira História do Paraíso e Mohsin Hamid, o autor de O Fundamentalista Relutante que cresceu no Paquistão, frequentou a Universidade de Princeton e a Faculdade de Direito de Harvard e vive em Londres, participa numa mesa ao lado do brasileiro Antonio Prata.

Também os jornalistas David Carr (norte-americano) e Graciela Mochkofsky (argentina) que são conhecidos por terem investigado as relações entre a imprensa e interesses privados, estarão na FLIP para discutir política na mesa Narradores do Poder. "São dois críticos do poder", disse Werneck. "Millôr era a pedra no sapato do poder. A crítica ao poder é o principal eixo da programação deste ano. Mas são novos críticos, que falam de questões do século XXI. Não é a 'velha esquerda' ou a 'velha direita'", acrescentou o curador.

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