Ministra da Agricultura e Governo tratam agricultores como “indigentes”, acusa dirigente da CNA

CDU reuniu em Coimbra com CNA, teceu críticas às opções socialistas para o sector e propôs quotas obrigatórias para a produção nacional no comércio.

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João Ferreira teve um encontro com a CNA Miguel Manso

João Dinis, que recebeu esta segunda-feira à tarde a delegação da CDU encabeçada pelo candidato João Ferreira, e com o qual admitiu ter “uma afinidade grande nas preocupações”, acusou Assunção Cristas de “não ser ministra da Agricultura de Portugal”. E apontou: “Ela comporta-se como um agente ao serviço do grande agro-negócio, das grandes multinacionais, incluindo da manipulação genética. Nesse contexto, das grandes explorações que nem sequer pagam impostos em Portugal, é que a senhora ministra se sente bem.”

Em contraponto a esta política que beneficia os grandes interesses, a ministra e a equipa de Passos Coelho “estão a querer impor aos agricultores, em especial aos pequenos agricultores, que tenham que pagar ainda mais impostos com as novas imposições fiscais e permitem simultaneamente que as grandes empresas, as grandes celuloses, as grandes empresas de importação e exportação, o qrande agro-negócio, venham apanhar os apoios públicos em Portugal e degradar os nossos recursos naturais”

É neste contexto, acrescenta João Dinis, que a ministra “se porta como peixe na água. Ela gosta é do grande agro-negócio, da grande agro-indústria. As dezenas e dezenas de milhares de agricultores familiares, na cabeça da sra. ministra eles são é indigentes. Este Governo e esta ministra tratam a grande parte dos agricultores portugueses, especialmente os pequenos agricultores como se fossem indigentes.”

Quotas para a produção nacional, pede a CDU
Admitindo “afinidade grande entre as preocupações e posições da CNA e o candidato da CDU”, João Dinis identificou ideias comuns sobre “defesa e promoção da agricultura familiar portuguesa, da soberania alimentar, da qualidade alimentar e no combate a estas políticas agrícolas (…) que estão a dar cabo da agricultura familiar portuguesa, a arruinar cada vez mais o mundo rural e a atirar Portugal para um défice agro-alimentar bastante perigoso”.

O candidato da CDU, João Ferreira, disse que um dos pontos da agenda com a CNA foi precisamente a PAC, que trouxe medidas já confirmadas como “ruinosas para a agricultura nacional”. Por exemplo, a abolição definitiva das quotas, em especial das quotas leiteiras, poderá gerar “uma situação liquidatária do sector a nível nacional, um encharcamento de produção estrangeira no mercado nacional a preços verdadeiramente ruinosos para os nossos agricultores”.

Estas condições poderão ainda degenerar numa “completa desregulação dos mercados” se a isto se somarem os acordos de livre comércio “que o PS e os partidos do Governo já disseram defender”, avisou João Ferreira, reforçando a aliança entre socialistas, centristas e sociais-democratas.

O candidato aproveitou para enumerar algumas propostas da CDU “distintivas” e “inovadoras”, como a instauração de um princípio de preferência da produção nacional sobre a produção importada, sobretudo em países como Portugal, que enfrentam défices no plano agro-alimentar; ou a instauração de quotas de comercialização obrigatória de produção nacional; ou a convergência nos pagamentos da PAC iguais para todos os países.

Quantos projectos de jovens vão sobreviver?
Segundo o dirigente da CNA, o país está a ser sujeito “às importações sem controlo e isso contribui para a falta de escoamento, para a baixa dos preços da produção nacional, para a ruina das explorações familiares, para o aumento do défice da balança de pagamentos agro-alimentar”.

A confederação irá reunir com candidatos de outras listas, que também deverão ouvir o discurso crítico de João Dinis. “Os agricultores têm todas as razões para pensar bem na vida, para pensarem a quem têm entregue o seu voto nas sucessivas eleições e o que tem acontecido à sua vida e deixarem de entregar o voto a quem os tem enganado.”

Questionado pelo PÚBLICO, João Dinis mostrou ter grandes dúvidas sobre o panorama aparentemente bom que o Governo tem apresentado sobre a aposta na agricultura. É um facto que tem mais jovens a candidatarem-se a projectos na agricultura devido ao aumento do desemprego noutros sectores e devido aos incentivos de arranque, diz o dirigente. O problema é o depois.

“Ninguém diz, e esta ministra foge disso como o diabo da cruz, de nos dizer qual é a taxa de mortalidade [dos projectos] dos jovens agricultores que nos últimos 15 anos tiveram projectos de investimento na agricultura portuguesa.” Sem querer responder se as estatísticas são uma ilusão, o dirigente da CNA está convencido que “daqui a cinco anos nem um quinto dos jovens agricultores” que agora se lançaram “conseguirão sobreviver se isto continuar como está, se não houver uma alteração profunda nas políticas agrícolas e fiscais”.

 

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