Importações crescem mais que exportações pela primeira vez desde 2010

Paragem de 45 dias da refinaria da Galp fez diminuir as exportações de combustíveis e lubrificantes.

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É expectável que a paragem da refinaria de Sines ainda tenha impactos nas exportações no segundo trimestre Paulo Ricca

Os dados divulgados ontem pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) mostram que as entradas de bens em Portugal aumentaram 6% nos três primeiros meses do ano, para 14.334 milhões de euros, enquanto as saídas cresceram apenas 1,7%, para 11.734 milhões de euros. É preciso recuar até Junho de 2010 para ver o ritmo de subida das importações superar o das exportações, com taxas de crescimento respectivas de 23,1% e 20,1% (níveis elevados que se explicam pelas quebras verificadas no período homólogo, provocadas pela crise económica internacional).

O crescimento das importações acima das exportações no primeiro trimestre deste ano é um cenário bem diferente daquele que se verificou no último trimestre de 2013, quando as vendas ao exterior cresceram 6,4% e as compras apenas 3,3%. O facto de esta tendência se ter invertido nos primeiros três meses deste ano fez com que o défice da balança comercial aumentasse em 621,7 milhões de euros, para aproximadamente 2600 milhões. E levou também a que taxa de cobertura das exportações sobre as importações recuasse 3,5 pontos percentuais, fazendo com que as vendas internacionais cubram apenas 81,9% daquilo que o país compra ao estrangeiro.

As exportações para a União Europeia (onde Portugal tem como principais mercados Espanha, Alemanha e França) aumentaram 3%, mas caíram 1,7% fora do espaço comunitário. Da mesma forma, a importação de produtos da União Europeia aumentou 13,5%, mas caíram as compras aos países terceiros (menos 12%).

Nas vendas aos parceiros comunitários destacaram-se os plásticos e borrachas (em particular resinas amínicas, resinas fenólicas e poliuretanos) e veículos e outro material de transporte (partes e acessórios para automóveis), precisou o INE. Já as importações dentro do espaço europeu traduzem o “acréscimo generalizado da quase totalidade dos grupos de produtos”, mas sobretudo dos veículos e outro material de transporte, combustíveis minerais e máquinas e aparelhos.
 

Paragem da refinaria de Sines penalizou exportações

O factor que mais pesou no abrandamento do ritmo de crescimento das exportações foi a redução das vendas de combustíveis e lubrificantes, na ordem dos 30%. Os resultados do primeiro trimestre da Galp Energia, a maior exportadora de bens, já faziam antever uma queda nas vendas de produtos petrolíferos para o exterior. As contas da empresa, divulgadas recentemente, referem uma descida de 41% nas exportações para fora da Península Ibérica, para um total de 600 mil toneladas como consequência da “menor disponibilidade de produto para exportação” devido à paragem de 45 dias para trabalhos de manutenção da refinaria de Sines, cuja actividade foi retomada no início deste mês.


O peso da refinaria de Sines nas exportações é ainda mais evidente quando se verifica que, expurgando as vendas de combustíveis e lubrificantes dos cálculos, as exportações extra-comunitárias teriam crescido 5,9% (recuaram 1,7%). Tendo em conta que a actividade do complexo de hydrocracking de Sines (que permitiu aumentar a capacidade de produção de gasóleo) entrou em velocidade de cruzeiro em Abril do ano passado, é de esperar que, no próximo trimestre, a evolução das exportações continue a reflectir o efeito da paragem para manutenção da refinaria.

Analisando apenas o mês de Março, Portugal exportou menos 1,3% em comparação com o mesmo mês de 2013, sobretudo, devido ao comércio para fora da União Europeia e aos combustíveis minerais. Em termos de variações mensais, Março foi mais positivo do que Fevereiro e, neste caso, com o contributo tanto do mercado natural de Portugal (União Europeia), como do mercado extracomunitário. Aqui destacam-se os produtos químicos, metais comuns e plásticos e borrachas. Em comparação com Fevereiro, as importações cresceram 1%, impulsionadas pelos clientes europeus e pela venda de veículos, materiais de transporte, produtos químicos e agrícolas.

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