Mais do que “que se lixe a Troika”, “como a Troika nos lixou”. Portugal está a dias de sair do programa de ajuda externa e este bem podia ser o lema que reuniu oito fotógrafos e um documentarista numa jornada pelo território português, a fim de capturar o seu lado menos encantador — o das consequências do resgate financeiro. “Sabemos das dificuldades através dos números que saem nas manchetes dos jornais. Mas isso já é banal, não nos dá a dimensão do problema”, explica o fotojornalista Rodrigo Cabrita, justificando a eficácia da imagem no retrato da pobreza. Uma página online, um livro e um filme são a ambição do Projecto Troika, que conta com uma plataforma de “crowdfunding” para captar apoio financeiro.
Falamos, então, de uma paisagem visível? Lara Jacinto acredita que este é um desafio para a lente da sua câmara. “Faço-o com a consciência de que a realidade que encontro é infinitamente mais densa do que aquilo que conseguirei representar no meu trabalho”, assume a fotógrafa, que se dedicou a observar a nova vaga de emigração e a registar o rosto de quem parte sem desejar. Ao fim de vários meses de projecto, Lara recorda um pai de 48 anos que emigrou, deixando em Portugal o filho de um ano: “Angustia-o a ideia de não estar presente no universo do filho, de não fazer parte dos seus pensamentos, de não ser entendido como pai, mas sim como amigo que o visita duas vezes por ano”.
Adriano Miranda, mentor da iniciativa, explica que a principal motivação do Projecto Troika é, mais do que qualquer descontentamento, a fotografia. Sobretudo, “aquela que morde, que belisca”. Dispara o obturador há 20 anos e, desta vez, os seus modelos posam despidos. “De emprego, de direitos, de saúde, de educação, de valores, de democracia, de amor e até de protesto com as ruas vazias”. E de roupa também. Mas, segundo Adriano, o pudor é insignificante perante a revolta: “Os Despidos despem-se perante uma câmara, não para mostrar as belezas do corpo, mas porque se sentem indignados e zangados. Despem-se em protesto, é a sua forma de dizer ‘estou farto!’” O fotógrafo acrescenta que este documento visual bate-se por duas coisas: “A denúncia, para quem cá está, e a memória, para que os próximos aprendam a lição e construam uma sociedade baseada no Homem e não nos mercados”.
O Projecto Troika encontra-se em desenvolvimento, mas alguns “updates” (fotos, casos e perfis) podem ser acompanhados através do site.