Passos evoca a epopeia marítima para dizer que Portugal vai ultrapassar a crise sem “uma tutela externa”

Primeiro-ministro sublinha ser necessário recordar a capacidade e espírito cosmopolita dos Descobrimentos. No aniversário dos 40 anos do PSD, Pinto Balsemão salienta existirem muitas razões para ter orgulho num Governo "que teve de enfrentar as dificuldades que o país atravessou nas últimas décadas”.

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PSD celebrou os 40 anos na Alfândega do Porto com a presença de diversos líderes do Partido Fernando Veludo

“Precisamos de nos recordar desse espírito cosmopolita que nos levou a todas as partes do mundo. Dessa capacidade extraordinária de nos darmos com todos os outros num mundo que começou a ser global justamente com a nossa acção”, referiu o primeiro-ministro lembrando ainda que os outros países “vêem Portugal como um velho amigo”.

Passos, aliás, aproveitou a inauguração daquele museu, que criou 40 postos de trabalho directos, para anuir que tal “pode ser um estímulo muito grande para todos aqueles que estão apenas à espera de ver se já está ou não na hora de acreditar mais na nossa história, no nosso país e no nosso futuro”.

Porém, aqueles que antes haviam esperado Passos à porta do museu pareciam não acreditar muito nesse desafio. Quando o primeiro-ministro cruzou a pequena ponte superior que liga o museu à Rua Nova da Alfandega sem ter passar por Miragaia - uma zona socialmente desfavorecida -, os moradores da zona assomaram às janelas das características casas do Porto antigo. “Gatuno”, foi, então, a palavra que mais se ouviu. Mas houve muitos moradores que das janelas bradaram contra a crise e os empregos desaparecidos em dia de aniversário do PSD.

“Andaram a roubar-nos com impostos e agora vêm aqui passear os carros? Isso é o nosso dinheiro. Esses carros foram comprados com o nosso dinheiro. Vai trabalhar”, disseram vários moradores. Só uma moradora ergueu o polegar e esticou o sorriso.

Passos veio depois, já na inauguração do Centro-Materno Infantil (CMIN), sublinhar mais uma vez a necessidade de consenso. “Precisamos de estar unidos naquilo que é essencial para enfrentarmos aquilo que aí vem”, disse Passos lembrando que “foi possível defender o Estado social nesta crise financeira”. Aliás, o chefe do Governo, que à entrada do CMIN foi apupado por cerca de 30 manifestantes que exigiram a sua demissão e voltaram a usar a palavra “gatunos”, destacou “o denominador comum no país” em torno do Serviço Nacional de Saúde, da Justiça e da Segurança.

“Isto prova que nos conseguimos unir em torno do essencial porque, de resto, é bom estarmos  em desacordo em democracia”, disse o primeiro-ministro que, inclusive, destacou “ser muito saudável para os cidadãos que possam fazer escolhas periodicamente”. Passos lamentou ainda o “desemprego que foi gerado pela maior crise desde o 25 de Abril, em Portugal”.

Pedro Passos Coelho pedira unidade à tarde, para enfrentar as dificuldades dos próximos tempos e foi isso que encontrou na Alfândega do Porto, onde os 800 lugares sentados não chegaram de perto nem de longe para os militantes que disseram presente, na cerimónia dos 40 anos do partido.

Sinal desse espírito de união, a cerimónia começou com a entrada na sala, em fila indiana, do fundador e militante n.º1 do partido Francisco Pinto Balsemão, seguido pelo primeiro-ministro e presidente do partido e por outros militantes que também o precederam no cargo – alguns bem críticos uns dos outros.

“Temos muitas razões para nos continuarmos a orgulhar agora de um Governo que teve de enfrentar as dificuldades que conhecemos”, disse Balsemão.

Além de Assunção Esteves, actual presidente da Assembleia da República, integraram esta fila Manuela Ferreira Leite, Fernando Nogueira, Marcelo Rebelo de Sousa, Luís Filipe Menezes e Marques Mendes. Passos Coelho e Pinto Balsemão chegaram à Alfândega do Porto bem antes da hora prevista.

Passos ainda viu do outro lado da rua uma manifestação com cerca de três dezenas de pessoas e cartazes de protesto contra os cortes de apoios às crianças com necessidades educativas especiais. Volta e meia, dos carros que iam passando à porta do edifício alguém gritava um insulto.

Miguel Veiga diz que o "PSD mudou demais" e "deixou a social-democracia"

Nada que admire o advogado portuense, Miguel Veiga, para quem o PSD "mudou demais, deixou a social-democracia”. Ainda assim o histórico militante, que é amigo de Balsemão e que nas últimas autárquicas apoiou o independente Rui Moreira no Porto, contra o candidato do PSD, Luís Filipe Menezes, declarou aos jornalistas que continuava a sentir orgulho em ser do PSD.

Mendes e Marcelo também lá iam discorrendo sobre o ADN, da matriz social-democrata e interclassista do partido. Ontem, justamente, viram-se sobretudo gravatas e vestidos de noite, faltou o povão que tem sido marca do PSD nestes 40 anos. Os militantes mais antigos tiveram direito a diploma e medalha. Ou melhor, alguns deles, porque o stock acabou às tantas, para irritação de quem esperara na fila.

Com uma orquestra com mais de 20 músicos em palco, a cerimónia começou com um toque de gongo e filmes e vídeos sobre o Portugal dos anos 60, a revolução democrática e a história do partido.

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