Ocidente prepara sanções contra a Rússia, que é acusada por Kiev de querer uma guerra mundial

Com a Ucrânia a traçar o pior dos cenários, o de uma guerra mundial, a Rússia mantém tropas coladas à fronteira e Obama falou com os aliados europeus sobre sanções. “Não há muito mais tempo para pôr fim a esta loucura”, desabafou o ministro alemão dos Negócios Estrangeiros

Foto
Tropas ucranianas no Leste do país GENYA SAVILOV/AFP

A possibilidade de novas sanções contra a Rússia – após a anexação da Crimeia foram congelados bens e proibidos vistos a algumas dezenas de russos e ucranianos – foi “evocada” numa conferência telefónica entre presidentes e chefes de governo de EUA, França, Alemanha, Reino Unido e Itália.

Num comunicado da presidência francesa divulgado após a conversa entre Barack Obama, François Hollande, Angela Merkel, David Cameron e Matteo Renzi é dito que os dirigentes ocidentais apelaram a uma “reacção rápida” do G7, grupo das economias consideradas mais avançadas, e falaram sobre a "adopção de novas sanções”.  

A chanceler alemã anunciou que os ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia vão reunir-se “o mais rapidamente possível” para discutirem medidas cujo conteúdo está em aberto. “Ainda estamos a discutir o tipo de sanções”, admitiu o ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Laurent Fabius.

Merkel falou esta sexta-feira telefonicamente com  Putin  a quem disse ter “claramente afirmado” que a Ucrânia deu passos para aplicar o acordo de Genebra mas pouco viu a Rússia fazer nesse sentido. “Estou profundamente convencida que a Rússia tem ou terá possibilidade de colocar os separatistas no caminho pacífico.”

O acordo de Genebra, assinado a 17 de Abril entre Rússia, EUA, União Europeia e Ucrânia prevê o desarmamento de “todos os grupos ilegais” que actuam na Ucrânia e a desocupação de edifícios tomados por pró-russos. As acusações recíprocas de não respeito pelo acordo têm-se sucedido.O ministro alemão dos Negócios Estrangeiros, Frank-Walter Steinmeier, entende que “não há muito mais tempo para pôr fim a esta loucura”. A Casa Branca fez um sublinhado às declarações: “a Rússia pode ainda escolher uma resolução pacífica da crise, incluindo através da aplicação do acordo de Genebra”.

Para já, os líderes ocidentais insistiram que “a integridade territorial e a soberania da Ucrânia devem ser respeitadas” e apelaram a Moscovo para acabar com “declarações provocatórias” e “manobras de intimidação” – alusões à hipótese, admitida na quarta-feira pelo ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, de uma intervenção militar na Ucrânia” se os interesses dos russos forem directamente atacados”.

Antes da conferência telefónica, Obama, em viagem na Ásia, disse que pretendia “assegurar-se de que [os europeus] partilham” a sua avaliação sobre a Ucrânia. O Presidente dos EUA estaria, segundo responsáveis norte-americanos, descontente com a relutância à aplicação de sanções por alguns países, designadamente Alemanha e Itália. As mesmas fontes disseram às agências noticiosas que as sanções que Obama terá em mente não visariam sectores estratégicos da economia russa, como minas e energia – os quais só seriam alvo de medidas punitivas em caso de intervenção de forças regulares de Moscovo na Ucrânia.

“Rússia quer III Guerra Mundial”
A escalada de retórica que tem caracterizado a crise ucraniana teve esta sexta-feira como ponto alto uma declaração do chefe interino do governo de Kiev no conselho de ministros. “As tentativas de agressão do exército russo sobre o território ucraniano levarão a um conflito no território da Europa. O mundo não esqueceu a II Guerra Mundial e a Rússia quer lançar uma terceira”, disse Arseni Iatseniouk,

O contraponto russo foi a afirmação do ministro dos Negócios Estrangeiros de que “o Ocidente... quer controlar a Ucrânia por assim dizer, sendo motivado apenas pelas suas ambições geopolíticas”.  Mais tarde, segundo a Reuters, o mesmo Lavrov disse a Steinmeier que toda a violência na Ucrânia deve parar, principalmente a que envolve “o recurso ao exército e a nacionalistas radicais”.

Depois de, na quinta-feira, forças ucranianas terem avançado sobre posições de  pró-russos que ocupam cidades no Leste, e de a Rússia ter iniciado manobras junto à fronteira, o ministério da Defesa de Kiev comunicou que os soldados russos se aproximaram até um quilómetro da fronteira mas não a ultrapassaram. Um assessor do Presidente interino, Oleksander Turchinov, afirmou mais tarde que qualquer incursão russa será entendida como invasão. “Consideraremos qualquer atravessamento da fronteira ucraniana por tropas russas no território de Donetsk ou de qualquer outra região como uma invasão militar e destruiremos os atacantes”, declarou Serguii Pachinski.

Na noite de quinta-feira, um engenho explosivo feriu sete pessoas num posto pró-ucraniano perto do porto de Odessa. Já esta sexta-feira, Kiev anunciou que um helicóptero militar foi atingido no solo por disparos de um lança-foguetes e se incendiou, provocando ferimentos no piloto, num aeródromo de Kramatorsk, perto de Slaviansk, cidade controlada por pró-russos. Residentes na zona disseram ter ouvido tiros e três explosões.  Ao fim do dia foi anunciado que sete observadores da OSCE (Organização para a Cooperação e Segurança na Europa) – juntamente com cinco militares ucranianos e o condutor do autocarro em que seguiam – foram retidos em Slaviansk por separatistas, que acusam um dos soldados do grupo de ser “um espião” . Serguii Pachinski confirmou entretanto que o avanço ucranianos da véspera na área de Slaviansk se destinou a tentar bloquear a cidade e impedir a chegada de reforços.

O procurador do Tribunal Penal Internacional anunciou esta sexta-feira a abertura de um inquérito para apurar se estão reunidos os critérios de “jurisdição e admissibilidade” necessários a uma investigação a alegados crimes contra a humanidade cometidos no período anterior à queda do Presidente ucraniano Viktor Ianukovich, no final de Fevereiro. A abertura do inquérito dá seguimento a um pedido das autoridades interinas de Kiev, que responsabilizam o anterior regime pela morte de mais de cem manifestantes nos protestos que ocorreram na capital. 

Sugerir correcção
Comentar