Descoberto potencial mecanismo-chave da regeneração de lesões espinais

Em caso de lesão, algumas células nervosas conseguem regenerar as suas fibras de comunicação com o cérebro. Uma equipa portuguesa identificou um mecanismo que poderá ser responsável por esta rara capacidade.

i-video
Uma chave para a regeneração nervosa?

As lesões espinais graves, provocadas por acidentes de viação e outros traumatismos, são muitas vezes irreversíveis e deixam as suas vítimas paralisadas e sem sensibilidade nas extremidades. Isto porque, em geral, os neurónios do sistema nervoso central (cérebro e espinal medula) não conseguem reparar os seus axónios, as longas fibras nervosas que lhes permitem transmitir informação sensorial ao cérebro e receber as suas ordens e respostas.

Pelo contrário, os neurónios da periferia do sistema nervoso – ou seja, aqueles que, localizados das vísceras às extremidades, permitem que o resto do corpo comunique com o cérebro via a espinal medula–, conseguem fazê-lo.

Porém, essa dicotomia não é absoluta: existem certos neurónios, próximos da espinal medula, que projectam os seus axónios para ambos os sistemas nervosos central e periférico. Basicamente, estas células possuem um axónio que, a dada altura, se bifurca para cada um dos lados.

Quando sofrem uma lesão, estes neurónios conseguem regenerar o ramo periférico do seu axónio mas não o ramo central – até aqui, nada de muito inesperado. Mas, como explica o IBMC em comunicado, têm uma particularidade, essa sim, inédita e que permanecia misteriosa: se um destes neurónios tiver sofrido uma lesão prévia no seu ramo periférico, o ramo central do neurónio também ganha a capacidade de se regenerar.  

No seu trabalho agora publicado, Mónica Sousa e os seus colegas estudaram estas células em ratos de laboratório para ver o que estava a acontecer. E puderam observar que, quando uma lesão ocorre no seu ramo periférico , verifica-se, no interior do axónio, um aumento do transporte de componentes celulares, incluindo proteínas e diversas estruturas intracelulares como mitocôndrias (as “baterias” das células).

Só que – e aqui é que está a novidade – esse aumento não se limita ao ramo periférico do axónio; abrange também o seu ramo central. E isso faz com que, se o axónio central sofrer uma lesão subsequente (isto é, uma lesão da medula espinal), "toda a maquinaria necessária para montar a regeneração axonal já estará presente e funcional” devido à anterior lesão periférica, explica Fernando Mar, co-autor do trabalho, citado no mesmo comunicado.

Para Mónica Sousa, o maior contributo deste trabalho é “identificar o transporte axonal como um alvo importante”, cujo estudo “poderá ser o futuro no desenvolvimento de terapias com o fim de aumentar a regeneração axonal no sistema nervoso central adulto”.

Sugerir correcção
Comentar