Assim que se entra na geladaria sentimos um misto de cheiro a novo e de crepes acabados de fazer, enquanto os olhos se passeiam pelas cores chamativas dos gelados. As paredes de pedra, o cantinho das revistas ou o sofá vermelho de canto ajudam a criar o ambiente aconchegante. É a Resvés, a geladaria que quer dar novos sabores a Campo de Ourique, carismático bairro alfacinha que não pára de somar novidades.
“Nós no fundo estamos a abrir a nossa casa, vendemos aquilo de que gostamos, queremos que as pessoas se sintam bem cá”, resume uma das sócias do projecto, Sofia Rêgo, ex-jornalista d' “O Correio da Manhã”. Sofia e a arquitecta Antónia Risques desenvolveram a ideia de criação do espaço ao longo de um ano. Pilares: gelados e crepes criativos.
“Sou uma curiosa, fazia gelados para os amigos em casa e eram experiências que corriam bem”, diz-nos Sofia. Mas, na Resvés, a ementa vai muito para além do resultado das suas experiências pessoais. A “culpa” é de Bertílio Gomes, chef do Chapitô à Mesa e da Ice Gourmet, chancela para gelados de autor. O chef Bertílio “não abusa nas natas, pelo que os gelados sabem mesmo ao fruto. As pessoas provam o gelado de morango e dizem que é mesmo morango”, garante Sofia.
Sabores pouco convencionais
A geladaria promete pautar-se pela diferença e propor gelados muito para além dos convencionais. Poejo, eucalipto, alfarroba, rosas, queijo de figo e manjericão são exemplos dos sabores propostos. É possível provar uma bola (2,20 euros), duas (3,50 euros) ou três (4,50 euros). Entre as misturas alternativas contam-se framboesa com champanhe ou chocolate branco com trufa e avelã.
Mas não só de gelados vive a Resvés. Também os crepes doces (com frutas, gelado e chocolate) e salgados (como os de bacalhau com pimento ou cogumelos com caju) querem marcar a diferença. É que, aqui, o crepe com queijo, fiambre ou cogumelos não abunda. Sofia explica que a geladaria tentou alargar o conceito a produtos regionais, de que é “exemplo a mistura da morcela com ananás ou o de alheira”. Nos menus (a partir de 6,50 euros), os crepes vêm com salada e arroz e inclui-se sumo natural (laranja ou limão) e café.
E há sempre lugar para a inovação. “Apresentámos o crepe de chili com ananás, que continha arroz”, exemplifica. Os clientes ficam surpreendidos, mas voltam. “Porque tem o crepe de ser só de queijo e fiambre?”, questiona. Pelo menos por aqui não tem; tanto que o mais recente por ali avistado até era de lombinhos de porco com pêssego e tomilho.
“Combater o problema da sazonalidade” é o objectivo da ementa de crepes. O que se pretende é que a geladaria ofereça algo quente no Inverno, uma vez que os gelados são maioritariamente consumidos durante o Verão. Mas há sempre toppings quentes para todos os gostos, desde o de chocolate ao de morango, passando pelo de rum e pelo de whisky.
Quem prefere algo mais consistente, pode deliciar-se com os bolos, como o bolo lêvedo açoriano, que pode ser servido inteiro ou às metades, torrado ou com queijo da ilha, presunto, manteiga ou doce. A aposta em produtos locais é uma realidade e o pão é exemplo disso. “Vamos busca-lo à panificação de Campo de Ourique”, explica.
Além das comidas, a geladaria quer também ser um espaço para ir ficando e conhecer mais mundo. Em Campo de Ourique, diz-nos Sofia, “as lojas acabam naquilo que oferecem”. A Resvés pretende diferenciar-se oferecendo muito mais, entre exposições, eventos e tertúlias.
A existência do Jardim da Parada à frente da Resvés é outra mais-valia. “O jardim é lindíssimo, tem um coreto fantástico que é pouco explorado, e nós queremos trazer artistas”, sublinha a mentora do projecto.