O primeiro debate entre Juncker e Schulz foi em francês e os candidatos pouco discordaram
A campanha para a escolha do novo presidente da Comissão Europeia começou. Os candidatos vão visitar os Estados membros e no início de Maio Juncker chega a Portugal.
Em jogo está um cargo que é considerado um dos mais importantes – e difíceis do mundo – à frente da instituição europeia que tem o poder de apresentar propostas legislativas aos governos da União Europeia (UE) para o aprofundamento das políticas comunitárias, e impôr o seu cumprimento nos seus 28 Estados membros.
Os dois candidatos, indicados pelas duas maiores famílias políticas europeias (PPE e S&D, respectivamente), travaram na quarta-feira um primeiro debate televisivo transmitido por dois canais franceses de televisão, e em francês, que ambos dominam na perfeição. Até às eleições, estão previstos mais dois debates entre os dois, incluindo um na Alemanha, em cuja língua ambos estão igualmente em pé de igualdade.
Neste primeiro embate, ficou patente que os dois candidatos se apreciam e respeitam mutuamente e até que partilham inúmeros pontos de vista sobre as questões europeias, o que transformou os 45 minutos de pergunta e respostas num momento muito pouco palpitante.
Schulz acusou os democratas-cristãos – maioritários nos governos da UE – de terem imposto uma dose excessiva de austeridade aos países do Sul fazendo disparar o desemprego. Ao invés, Juncker insistiu na necessidade de manter o controle das despesas públicas e afirmou, a propósito, que não há qualquer razão para que a zona euro conceda a França mais um ano para reduzir o défice orçamental para os limites europeus. Não há qualquer razão “óbvia” para isso depois de Paris ter obtido dois anos suplementares há apenas um ano, afirmou Juncker, traduzindo implicitamente a frustração europeia pela relutância dos franceses de operarem o tipo de reformas já levadas a cabo nos outros países do euro. Schulz defendeu, em contrapartida, que o novo primeiro ministro francês, Manuel Vals, precisa do apoio europeu para o programa de reformas que anunciou esta semana.
Um último debate entre os candidatos de todas as famílias políticas europeias – que, além de Juncker e Schulz incluirá o belga Guy Verhofstadt, indicado pelos liberais, o grego Alex Tsipras, da esquerda europeia, e o francês José Bové ou a alemã Ska Keller pelos verdes – está marcado para 15 de Maio, devendo ser transmitido pelas televisões nacionais, eventualmente em diferido para permitir a sua tradução para as respectivas línguas.
Os dois candidatos esperam igualmente percorrer um número máximo de países da UE, apoiados pelos partidos locais – PSD e CDS/PP no caso de Juncker, PS para Schulz.
Juncker, de 59 anos, que foi durante quase 19 anos primeiro ministro do Luxemburgo e oito presidente do Eurogrupo (os ministros das finanças do euro) em plena crise da dívida soberana, fez-se na terça-feira à estrada num autocarro pintado com o azul forte do PPE e a sua fotografia em grandes dimensões. O seu calendário prevê, em princípio, uma deslocação a Portugal a 5 ou 6 de Maio.
Schulz, de 58 anos, presidente do Parlamento Europeu (PE) desde 2012, mostra-se menos exuberante, embora o seu cargo institucional lhe permita uma visibilidade que lhe será útil em campanha.
Ao contrário das aparências, no entanto, os cidadãos europeus não vão votar para nenhum presidente da Comissão com o seu voto de Maio, que se limita à escolha dos deputados europeus que os vão representar no PE durante os próximos cinco anos (21 eleitos em Portugal).
Legalmente, quem escolhe o presidente da Comissão são os chefes de Estado ou de Governo dos 28, em princípio numa cimeira europeia agendada para 27 de Maio. Só que o facto de o Tratado de Lisboa determinar que a escolha dos líderes tem de ter em conta o resultado das eleições, aliado ao facto de o PE ter de eleger o escolhido, as famílias políticas europeias decidiram apresentar os seus candidatos para “forçar a mão” aos Governos. Estes recusam ser despojados de um poder que lhe pertence, mas vários reconhecem em privado que será um embaraço se o próximo presidente da Comissão não for um dos que foi apresentado enquanto tal aos eleitores. Juncker reconheceu aliás esta semana que se assim não for, haverá “uma grave crise na Europa”.
Todas as sondagens colocam o PPE e o S&D taco a taco, com uma ligeiríssima vantagem para o primeiro, por vezes de apenas quatro deputados (em 751).