Dos qualificados, à mão-de-obra barata e aos estudantes

Primeiro vieram dentistas e publicitários, depois os trabalhadores da construção civil, dos restaurantes e do comércio. Agora, é a vez dos universitários brasileiros chegarem a Portugal.

Eram então 66.354 os imigrantes brasileiros, segundo o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras. Mas a imigração brasileira começou antes. E até é relativamente fácil aos investigadores definirem as suas diferentes fases. “A primeira vaga dá-se no final dos anos 80, início dos anos 90”, introduz o sociólogo Jorge Malheiros. “Era uma imigração muito qualificada, dos dentistas aos publicitários”, acrescenta. “Havia também”, reforça João Peixoto, “muitos artistas, arquitectos…”.

Na chamada segunda vaga, verificada entre finais dos anos 90 e início dos anos 2000 e bastante mais expressiva do que a primeira, dá-se uma mudança de perfil. “Cresceu bastante a componente da qualificação média e baixa. Muitos trabalhadores que foram parar à construção civil, comércio, restauração, serviços pessoais, e com uma proporção muito grande de mulheres”, recorda Malheiros. O investigador João Peixoto precisa que estes imigrantes não tinham forçosamente um nível de instrução baixo, “o que vieram foi ocupar as vagas no mercado de trabalho que os portugueses não queriam”. Essa vaga continuou a crescer na segunda metade dos anos 2000. Dos 31.546 imigrantes brasileiros registados pelo SEF em 2005, passou-se para os 119.363 de 2010, ano em que começaram a decrescer.

Já no século XXI, e “numa fase de menor interesse para os imigrantes laborais, quando as condições económicas se deterioram”, como situa Jorge Malheiros, “começa-se a assistir a um crescimento muito grande dos que vêm para estudar”. E isso explica por que é que a quebra nas remessas é mais expressiva do que a quebra no número absoluto de brasileiros em Portugal.

Sugerir correcção
Comentar