Paté de insectos "cozinhado" por designer portuguesa faz sucesso no Luxemburgo

A exposição questiona o papel do design em tempo de crise e de esgotamento dos recursos naturais e foi pensada como “um intercâmbio entre os designers portugueses e luxemburgueses”.

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Um dos biscoitos de Susana Soares
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Um dos biscoitos de Susana Soares
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Esta impressora 3D é uma tecnologia que a designer portuguesa desenvolve na London South Bank University
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A mesa de Ana Rita António
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A mesa de Ana Rita António
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O serviço da Vista Alegre de João Valente
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O banco de cortiça de Rui Carvalho
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O banco de cortiça de Rui Carvalho
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As capas para cadeiras de Rui Pereira
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As capas para cadeiras de Rui Pereira
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As capas para cadeiras de Rui Pereira

De luvas e avental, Susana Soares preparou várias “fornadas” de biscoitos cobertos com um paté à base de farinha de larvas de escaravelhos, gafanhotos e louva-a-deus “produzidos para consumo humano”, recorrendo a uma impressora 3D, uma tecnologia que a designer portuguesa desenvolve na London South Bank University.

A ideia do projecto, baptizado Insects au Gratin, é “encorajar as pessoas a comer insectos, uma alternativa ecológica à carne, utilizando uma nova tecnologia para os cozinhar e os tornar mais apelativos”, disse a designer portuguesa à Lusa enquanto preparava mais uma dose de aperitivos para a enorme fila de visitantes que aguardavam a sua vez de provar a exótica iguaria, frente à “cozinha” improvisada no museu luxemburguês. “O que estamos a ver é uma bolacha normal, e a impressora 3D está a imprimir por cima um paté de insectos com queijo-creme e pimenta caiena”, explicou a designer, frisando que o aperitivo teve boa aceitação entre as centenas de pessoas que visitaram a exposição com designers portugueses, sobre o impacto da crise e do esgotamento dos recursos no design.

“O que as pessoas dizem é que não sabe a insectos, mas também ninguém sabe muito bem o que é o sabor de insectos. As pessoas tentam sempre fazer uma comparação com o que conhecem, mas não há aqui um sabor muito forte: o sabor mais forte é o do queijo que foi usado como base”.

A ideia de produzir farinha de insectos a partir de animais desidratados, que depois pode ser misturada com água, manteiga ou até queijo-creme, surgiu-lhe quando assistiu a uma conferência TED Talk em 2010 com o entomologista Marcel Dicke, que propunha o seu consumo como forma de reduzir o impacto ecológico da criação de animais e combater a fome no mundo.

Consumidos em países asiáticos e considerados uma “proteína do futuro”, os insectos “têm um valor nutricional muito elevado”, não só em proteína, mas em nutrientes como o ferro, cálcio e magnésio, explicou a designer. “Há imensas directivas da Organização Mundial de Saúde para consumir menos carne, e os insectos têm o dobro da proteína que a mesma quantidade de carne. Quatro grilos têm o mesmo cálcio que um copo de leite, e são mais fáceis de produzir do que uma vaca, que consome muita água e imensos recursos”, disse Susana Soares.

Licenciada pela Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha, com um mestrado no Royal College of Art de Londres, a designer portuguesa, de 37 anos, está a desenvolver um projecto com engenheiros alimentares que poderá vir a ser comercializado em breve. “Estamos a criar barras de cereais e pão com insectos, e estamos neste momento a criar uma empresa para comercializar produtos com farinha de insecto”, disse à Lusa.

Cerca de 600 visitantes estiveram na quarta-feira na inauguração da exposição Never for Money, Always for Love, o que constitui “um recorde de afluência” no Mudam, disse à Lusa o responsável de comunicação do museu, Valerio D’Alimonte.
Integrada na bienal de design da cidade do Luxemburgo, a exposição, que questiona o papel do design em tempo de crise e de esgotamento dos recursos naturais, foi pensada como “um intercâmbio entre os designers portugueses e luxemburgueses”.

Os dois comissários da exposição, Bruno Carvalho e Anna Loporcaro, pediram aos designers que "a criatividade estivesse ao serviço da consciência social baseada em conceitos de sustentabilidade, interacção e participação", lê-se no dossier que acompanha a exposição. A peça de Ana Rita António, por exemplo, chama-se 14 Ways of Replacing a Table Leg e faz parte de um trabalho final para a escola integrado num trabalho mais vasto intitulado The Poetics of Miss Understanding. Reflecte sobre a missão do designer em encontrar uma estratégia criativa para resolver problemas que encontramos todos os dias: o que fazer quando uma mesa perde uma perna? Aqui, o defeito provoca "um processo de improvisação".

Entre os trabalhos apresentados no Luxemburgo, contam-se capas de cadeiras que permitem transformá-las num novo móvel de forma acessível (Rui Pereira), um serviço de chá da Vista Alegre feito a partir de um único molde, para reduzir os custos de produção (João Valente), e peças que recuperam materiais tradicionais portugueses como a cortiça (Bruno Carvalho) e o burel (Ane-Marie Herckhes).

A exposição, que conta com o apoio da Embaixada de Portugal no Luxemburgo e do Instituto Camões, pode ser vista até 15 de Junho, e vai incluir visitas guiadas em português ao sábado, nos dias 19 e 26 de Abril e 3 e 10 de Maio.