Europa e África à procura de soluções para travar violência sectária na República Centro-Africana

Não houve declarações oficiais sobre passos concretos. Na cimeira UE-África a posição africana é de que mais do que ajuda é preciso investimento. Hollande e Merkel propõem “aliança” entre continentes.

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Catherine Samba-Panza e Ban Ki-moon, no encontro de Bruxelas Francois Lenoir/Reuters

O presidente do Conselho da União Europeia (UE), Herman Van Rompuy, afirmou, no início de uma minicimeira, que a “aceleração da dinâmica de violência” entre cristãos e muçulmanos na República Centro-Africana é uma “grande preocupação”. E que “o ciclo de actos de represália” é também potencialmente desestabilizador para os países vizinhos, que “chegaram aos seus limites” de acolhimento de refugiados.

No final da reunião – em que participaram a Presidente interina da  República Centro-Africana, Catherine Samba-Panza, e dirigentes europeus e africanos, e que antecedeu a 4.ª cimeira União Europeia-África – não houve declarações oficiais.

Às perseguições de cristãos por combatentes, maioritariamente muçulmanos, da coligação Séléka, que esteve no poder em Bangui entre Março de 2013 e Janeiro de 2014, sucederam-se, nos últimos meses, ataques das milícias anti-balaka, formadas por cristãos, a civis muçulmanos. Nem a presença de forças internacionais tem conseguido pôr cobro à violência. Organizações como a Amnistia Internacional denunciaram que está em curso uma “limpeza étnica”.

Um dos mais recentes episódios de violência envolveu, no sábado, soldados chadianos que participavam no repatriamento de cidadãos do seu país e dispararam sobre uma multidão, provocando 24 mortos. Quer a força africana quer o primeiro-ministro, André Nzapayaké, declararam que os militares responderam a um ataque mas essas afirmações não afastaram a controvérsia e foi aberto um inquérito.

Na terça-feira, o alto-comissário das Nações Unidas para os Refugiados informou que estava a tentar retirar 19 mil muçulmanos de áreas próximas de Bangui. Cerca de 16 mil deixaram as suas casas na capital, nos últimos dez dias, devido à violência, acrescentou.

“São precisos mais esforços e contribuições”, disse, no início da minicimeira desta quarta-feira Rompuy. O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, que também participou no encontro, declarou que vai pressionar todos os países num esforço para conseguir “as tropas suplementares necessárias, e os fundos”.

A cimeira acontece um dia depois de a União Europeia ter formalmente anunciado uma missão militar composta por uma força que pode chegar aos mil homens e à qual – disse fonte diplomática à AFP – será confiada a segurança do aeroporto e de alguns bairros de Bangui. Decidida em Dezembro de 2013, a operação devia ter começado em Março mas atrasou-se devido à dificuldade de mobilizar efectivos e meios logísticos. Até que chegue ao terreno passarão semanas.

O reforço da presença europeia era reclamada pela França, que em Dezembro enviou 2000 homens para a República Centro-Africana, onde já estavam cerca de 6000 militares da Misca, uma força internacional africana. As Nações Unidas recomendaram no início de Março o envio, até meados de Setembro, de cerca de 11.800 soldados e polícias cuja principal missão seria a protecção de civis.

Proposta de “aliança”
A 4.ª cimeira EU-África, que conta com a presença de oito dezenas de dirigentes de países europeus e africanos, e termina esta quinta-feira, está centrada na segurança, desenvolvimento económico e imigração. Em discussão estão formas de relançar parcerias entre os dois continentes, num contexto em que a China tem disputado influência à Europa.

Para os africanos é importante que a cimeira passe a mensagem de que o continente “precisa mais de cooperação económica e de investimentos do que de ajuda”, disse à AFP o presidente da Guiné-Conacri, Alpha Condé.

Do lado europeu, a novidade desta quarta-feira foi a proposta da França e da Alemanha de uma “aliança” entre os dois continentes em torno de três desafios – segurança, desenvolvimento e meio ambiente. “A segurança, e portanto a paz, mas também o desenvolvimento, portanto o crescimento, e o ambiente, portanto as mudanças climáticas”, disse o Presidente francês, François Hollande, com a chanceler alemã, Angela Merkel, ao lado.

Nas discussões entre europeus e africanos não participam o Presidente do Zimbabwe, Robert Mugabe, que boicotou as reuniões por a UE ter recusado o levantamento temporário de visto à sua mulher, Grace, e do Presidente sul-africano, Jacob Zuma, que com ele se solidarizou.

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