Depois de uma notável série de documentários sobre os “campos da morte” do regime dos Khmer Vermelhos, Rithy Panh vira a câmara para si próprio e usa a sua experiência de vida, como miúdo que nasceu no Camboja pré-regime e cuja família foi apanhada na vertigem de uma revolução genocida, para manter viva a memória de uma dignidade humana que transcende a simples resistência. Partindo do documentário tradicional para percorrer os territórios híbridos da autobiografia e do filme-ensaio, A Imagem que Falta centra-se nos documentos que não existem de um período negro da história, e procura recriar essas “imagens que faltam” através do exercício da memória e da constatação que uma ausência pode dizer tanto como uma presença. “Godardiano” no modo como ilustra a célebre máxima do “travelling como uma questão de moral”, é o primeiro filme de Rithy Panh a chegar ao nosso circuito comercial, é uma das obras-primas absolutas que vamos poder ver nas nossas salas este ano; a ver em “sessão dupla” com o igualmente devastador O Acto de Matar, que estreará na próxima semana.
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