Jim Brown supervisiona atentamente o preenchimento dos extensos formulários de candidatura (16 páginas), enquanto tenta entusiasmar os escassos candidatos que se espalham pelos confortáveis sofás da entrada do Sheraton Hotel, no Porto. Um hospital do Serviço Nacional de Saúde inglês está desde segunda-feira em Portugal para recrutar enfermeiros e nem sequer exige experiência profissional. Mas no primeiro dia apareceram poucos candidatos.
Jim, que é director executivo da skill4nurses – a empresa que está a intermediar o processo de recrutamento –, não esconde a surpresa. O Royal Surrey County Hospital NHS Foundation Trust pretende contratar enfermeiros de todas as categorias, incluindo recém-licenciados, como rezava, aliás, o anúncio que foi colocado em jornais portugueses no último fim-de-semana. Os “new graduates” são precisamente o foco desta incursão em território português, apesar de o hospital também estar interessado em enfermeiros qualificados, acentua Jim.
“Os recém-licenciados têm um programa de preceptorship. Queremos educá-los, moldá-los. Durante seis meses são acompanhados por enfermeiros experientes. Enquanto não estão registados na Nursing and Midwifery Council [congénere inglesa da Ordem dos Enfermeiros], trabalham como “health care assistants”, explica. Curiosamente, nesta primeira tarde, apenas apareceu um enfermeiro acabado de sair da universidade, todos os outros candidatos tinham anos de experiência e empregos seguros.
Como Sónia Ramos, que trabalha há 17 anos, está empregada no Centro Hospitalar da Póvoa de Varzim/Vila do Conde, e tenta emigrar pela primeira vez. Sónia está determinada a arriscar, apesar de falar mal inglês. Há dois anos o marido ficou desempregado e abalou para Londres e agora ela quer seguir-lhe o exemplo. Com três filhos entre os cinco e os 13 anos, Sónia confessa-se cansada dos cortes salariais sucessivos e da falta de expectativas em Portugal. “Nem sequer nos pagam horas extras. O meu salário base é de 1200 euros, apesar destes anos todos de experiência”, lamenta.
O salário inicial que o Royal Surrey County Hospital oferece aos enfermeiros qualificados oscila entre os 28 mil e os 36.500 euros por ano. Há ainda um suplemento de 5% porque a unidade se situa em Guildford, no condado de Surrey, que é considerado uma “área de alto custo”. Jim lembra que há outros “benefícios” a considerar: “O hospital tem um ginásio e um clube social” e, quem quiser (o processo é voluntário), “pode aderir ao esquema de pensões” do serviço nacional de saúde inglês.
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