Empresas nacionais perderam 61 mil milhões desde o início da crise

Volume de negócios caiu mais de 14% nos últimos cinco anos, acompanhado por um travão a fundo no investimento e por uma queda dos lucros de 7,1 mil milhões de euros.

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Facturação do comércio a retalho e por grosso caiu 21 mil milhões de euros DANIEL ROCHA

De acordo com dados divulgados sexta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), pelo menos desde 2004 que as vendas das empresas vinham crescendo. Porém, esta tendência inverteu-se logo em 2009, após o eclodir da crise financeira. Apesar de uma subida de 3,9% no ano seguinte, em 2011 e 2012 voltaram a registar-se decréscimos, de 2,9 e de 6,2%, respectivamente. As receitas alcançadas há dois anos, no valor de 365,5 mil milhões de euros, representam o valor mais baixo desde 2005.

Em termos percentuais, a queda nas receitas foi especialmente acentuada nas microempresas, que, entre 2008 e 2012, assistiram a um recuo de 20,5% na facturação, correspondendo a uma perda de 15,8 mil milhões. Mas, em termos absolutos, o maior decréscimo foi protagonizado pelas grandes empresas, superando os 20 mil milhões. Do total de vendas gerado pelas sociedades nacionais em 2012, 48% foram da responsabilidade das grandes empresas, que facturaram 174 mil milhões de euros, seguindo-se as médias, mas com um peso de apenas 18,4%.

Os dados do INE mostram ainda que o sector de actividade que mais receitas gerou em 2012, o do comércio por grosso e a retalho, viu o volume de negócios cair 14,9% face a 2008, o que significou uma perda de quase 21 mil milhões de euros. Isto ao mesmo tempo que o Algarve e a Madeira se destacaram como as regiões em que as empresas tiveram um maior recuo nas vendas (33,8% e 25,7%, respectivamente). No entanto, em termos absolutos, foi em Lisboa que se registou o decréscimo mais acentuado, de 34,6 mil milhões de euros, representando mais de metade da redução global.

Menos 16 mil milhões investidos
A queda nas vendas foi acompanhada por um travão a fundo no investimento, que caiu quase 16 mil milhões de euros em termos globais. Nos últimos cinco anos, as empresas nacionais cortaram a aplicação de dinheiro em bens tangíveis, como linhas de produção, maquinaria ou edifícios, em 53,5%. Tal como aconteceu com as receitas, esta redução começou a partir de 2009, já que até então as sociedades vinham investindo mais a cada ano que passava. A retracção acentuou-se em 2012, com os gastos a atingirem 13,7 mil milhões de euros – o valor mais baixo desde, pelo menos, 2004.

A maior descida foi protagonizada pelas médias empresas, que investiram apenas 2,4 mil milhões, o que significou uma quebra de 60,2%. Mas, em termos absolutos, a diminuição mais expressiva partiu das grandes empresas, que aplicaram menos 5,5 mil milhões de euros, após uma descida de 54,5%. O sector das indústrias transformadoras, que mais dinheiro aplicou em 2012, num total de 2,9 mil milhões de euros, assistiu a um decréscimo de 47,5% em cinco anos.

Lucros caem 68,1%
Ao nível dos lucros, houve também uma queda bastante agressiva nas sociedades não financeiras: menos 68,1%, o que significou uma perda de 7,1 mil milhões de euros. Em 2012, o resultado líquido global foi de 3,3 mil milhões de euros, o que compara com os 10,5 mil milhões de 2008. Pelo meio, em 2010, antes da intervenção da troika (Maio de 2011) e numa altura que se se tentava reanimar a economia com o apoio de dinheiros público, os lucros dispararam 78%, atingindo o valor recorde de 20,1 mil milhões de euros. No ano seguinte, este indicador afundou-se 5,4 mil milhões, ou seja, menos 73%. Olhando apenas 2012, verifica-se, segundo o INE, que 51,1% das empresas deram prejuízos. 

O volume de negócios, de resultados líquidos e de investimento entre 2008 e 2012 foi fortemente influenciado por uma redução do número de empresas no país. Os dados do INE mostram o desaparecimento de quase 176 mil negócios neste período, o que correspondeu a uma diminuição de 13,9%. Por serem a larga maioria, as microempresas foram responsáveis pela diminuição mais significativa, tendo desaparecido mais de 165 mil sociedades deste tipo. Mas, em termos percentuais, o maior recuo coube às pequenas empresas, com uma queda de 20,3% que correspondeu à perda de 9405 entidades.

A maioria das empresas depende do mercado nacional, pelo que foram fortemente afectadas pela conjuntura recessiva do país, além de se depararem com dificuldades de acesso ao crédito, quando muitas estavam já bastante endividadas. O ano de 2012 assistiu a uma profunda recessão, com o PIB a cair 3,2% (contra a queda de 1,3% de 2011). O consumo privado caiu 3,7% nesse ano, depois de ter descido 2,6% de 2011, o que dá, só nesses dois anos, uma descida acumulada de 6,25%. Este facto, com o investimento a cair e o Estado a cortar a fundo no consumo, levou a procura interna a sofrer um recuo de 7% em 2012, quando este indicador já tinha descido 6,3% no ano anterior.

Microempresas perdem mais trabalhadores
Foi nas microempresas que o número de trabalhadores mais caiu nos últimos cinco anos. Da perda total de 558 mil funcionários entre 2008 e 2012, 243 mil estavam ao serviço deste tipo de sociedades, o que significa que foram responsáveis por 44% do emprego perdido neste período.

Em termos percentuais, a queda foi mais acentuada nas pequenas empresas, que cortaram 167 mil postos de trabalho. Os dados divulgados pelo INE mostram que, em cinco anos, o pessoal ao serviço das empresas em Portugal passou de 4,2 para 3,6 milhões, o que representou uma descida de 13,3%. Nas sociedades de média dimensão, a redução foi de 16,2%, o que correspondeu a menos 98 mil funcionários. E, nas grandes empresas, registou-se uma queda de 5,6%, com a eliminação de quase 50 mil postos de trabalho. 

O número de pessoas que estavam empregadas nas empresas nacionais em 2012 é o mais baixo, pelo menos, desde 2004, quando se registava 3,9 milhões de trabalhadores. Foi a partir de 2009 que os quadros de pessoal começaram a emagrecer, com uma redução de 3% logo nesse ano. Mas, em 2012, os cortes acentuaram-se, tendo havido uma queda de 5,9% nos funcionários face ao período homólogo. 

Os dados mostram que, do total de trabalhadores, 44,3% (ou seja, 1,6 milhões de pessoas) estão ao serviço de microempresas, já que estas representam 96% do número de sociedades existentes no país. Já as grandes empresas são responsáveis por 23% dos funcionários, havendo 1078 sociedades deste tipo que empregam mais de 835 mil pessoas. As pequenas e as médias empresas ficam com a restante fatia, tendo registado quase 119 mil postos de trabalho em 2012. No comércio por grosso e a retalho, o sector que mais pessoas empregava nesse ano, a queda face a 2008 foi de 11,4%. Com Luís Villalobos e Ana Brito

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