Portugueses só vão ao dentista quando a dor aperta, procura diminuiu 30%
Rastreio de cancro oral vai arrancar com rede de 240 dentistas que avaliarão casos suspeitos enviados por médicos de família
Desde o início da crise (2008) até 2012 houve uma quebra da ordem dos 30%, calcula o bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas, Orlando Monteiro da Silva, que se baseou nos dados das declarações de IRS de uma amostra de clínicas dentárias para chegar a este valor. “As pessoas fazem o mínimo. Resguardam-se para as situações de maior aperto, dor, grande desconforto”, lamenta o bastonário. Resultado? “É um barato que sai caro. Implica mais dor, mais patologia, mais absentismo e até extracções de dentes que seriam evitáveis”, diz.
Mas não se pense que é só a população mais carenciada que é afectada pela crise, isso também se está a reflectir na classe média. “Como desapareceram ou diminuiram uma série de deduções fiscais [com despesas de saúde], deduções essas que constituíam uma válvula de escape [porque uma parte dos gastos era posteriormente recuperada], também isso teve um impacto, sobretudo na classe média”, interpreta Orlando Monteiro da Silva.
Esta quinta-feira, vai ser anunciado, pelo ministro da Saúde, o arranque de um programa de prevenção, rastreio e tratamento do cancro oral que conta já com uma rede de 240 médicos dentistas, os quais serão responsáveis pela avaliação de casos suspeitos enviados pelos médicos de família, explica o bastonário. Em casos, por exemplo, de mancha, lesão, sangramento, dificuldade em engolir, os médicos de família referenciam para esta rede e os dentistas, caso se justifique, pedem uma biópsia, que será realizada no IPATIMUP, a entidade que venceu o concurso público para o efeito. Até ao final do ano está prevista a realização de cinco mil biópsias.
Quanto ao programa de saúde oral desde há anos no terreno – que disponibiliza cheques-dentista a crianças, grávidas e idosos –, esse é “um sucesso”, "é muito importante em termos de saúde pública, mas não é suficiente", defende o bastonário. “Não tratamos uma parte significativa dos grandes problemas, a cárie dentária e a doença do osso e das gengivas, que afectam 90% das pessoas”, sustenta.
Entretanto, por não terem trabalho em Portugal, muitos dos médicos dentistas que saem das sete faculdades do país são obrigados a emigrar. O bastonário calcula que "mais de mil" dos 8249 inscritos na Ordem estão actualmente a trabalhar no estrangeiro, no Reino Unido, em França, nos países nórdicos, na Suiça, mas também em países como o Dubai e os Estados Unidos.
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